Expedições à Amazônia identificam novas espécies de animais
Ao todo, um grupo da USP encontrou 12 espécies não catalogadas
07:31, 26 Jun•SÃO PAULO•
ZBF
(ANSA) - Em duas expedições à Amazônia,
pesquisadores de São Paulo coletaram animais de pelo menos 12
espécies ainda não catalogadas de sapos e lagartos, além de uma
coruja sem descrição científica. Ao todo, o grupo liderado pelo
zoólogo da Universidade de São Paulo (USP) Miguel Trefaut
Rodrigues trouxe para análise mais de 1,7 mil exemplares de mais
de 200 espécies diferentes de animais e plantas.
A última viagem ocorreu de abril a maio, quando o grupo viajou
cerca de 80 quilômetros a partir de Manaus (AM) pelo Rio Negro
até o município de Santa Isabel, próximo à região onde ocorre o
encontro com o Rio Branco. "Passamos um mês dormindo em redes
dentro do barco, onde também fazíamos todas as refeições e
montamos nosso laboratório. Em cada ponto diferente do rio era
necessário contratar um guia local. O Rio Negro é cheio de
pedras e é muito fácil acontecer um acidente", contou Rodrigues.
egundo o pesquisador, por ter águas muito ácidas, o Rio Negro
não abriga tantas espécies de animais, como outras partes da
floresta. Por isso, o grupo se aproximou do afluente. "Queríamos
estudar a influência das águas do Rio Branco na diversidade e
abundância de espécies", enfatizou o pesquisador. A expedição
também recolheu dados para avaliar a influência do Rio Negro
como barreira para o trânsito de espécies. "Por isso coletamos
em ambas as margens", acrescentou.
Foram usadas armadilhas com baldes e lonas de plástico para
capturar principalmente répteis e anfíbios. Nessa viagem foram
coletados mais de mil animais, um número necessário para atender
a demanda da pesquisa que busca entender a origem dos lagartos
do gênero Loxopholis que se reproduzem assexuadamente. Algumas
espécies desse tipo são formadas apenas por fêmeas.
Pico da Neblina:
A primeira expedição foi realizada entre outubro e novembro de
2017, na região do Pico da Neblina, na fronteira com a
Venezuela. Como parte da montanha está em território indígena
Yanomami, os trabalhos tiveram autorização da Fundação Nacional
do Índio (Funai) e apoio do Exército.
A biodiversidade da região é muito diferente da encontrada em
outras partes da floresta, se aproximando até das plantas e dos
animais encontrados na Cordilheira dos Andes. "Sabemos que em
altitudes superiores a 1,7 mil metros prevalecem paisagens que
não têm absolutamente nada a ver com a Amazônia atual: são
campos abertos e com clima muito mais frio que o da floresta",
explicou Rodrigues.
Foi entre os espécimes coletados nessa ocasião que foram
identificadas as 12 espécies sem descrição científica e uma nova
variedade vegetal. O conjunto de plantas ainda está, no entanto,
sob análise de especialistas.
Relações evolutivas:
Além da descrição dos novos animais, o material obtido será
usado para analisar os padrões evolutivos da fauna da América do
Sul. "Vários grupos de animais estão sendo estudados sob o ponto
de vista genético, morfológico e fisiológico. Alguns desses
estudos ajudarão a avaliar o risco de extinção dessas espécies
caso a temperatura desses locais se eleve nos próximos anos",
ressaltou o líder das expedições.
Cada uma das viagens durou cerca de um mês, com o envolvimento
de pelo menos dez pesquisadores. Os trabalhos foram financiados
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).