(ANSA) - A namorada do jornalista saudita Jamal Khashoggi na época de seu assassinato criticou o ex-primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi por participar de uma conferência de propaganda promovida pelo príncipe Mohammed bin Salman, acusado de ser o mandante do crime.
Em entrevista à ANSA, Hatice Cengiz disse que "não é possível estar bem informado sobre a Arábia Saudita e, ao mesmo tempo, sustentar que o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é um reformista".
"Não entendo por que Renzi fez isso. Talvez ele deva tentar entender melhor a realidade da situação na Arábia Saudita e o que Bin Salman fez a Jamal", declarou Cengiz.
Pivô da crise que culminou na renúncia de Giuseppe Conte, Renzi participou de um evento com MbS em plena crise política na Itália e usou tons amistosos para se referir ao príncipe, chegando inclusive a dizer que a Arábia Saudita poderia ser o "lugar do novo Renascimento".
Matteo #Renzi, former Italian PM, the man who started Italy's government crisis.
— Giulia Saudelli (@giuliasaudelli) January 28, 2021
This week as the crisis rolls on, he could be found chatting with Saudi crown prince Mohammad bin Salman. Renzi said "Saudi Arabia could be the place for a new Renaissance."pic.twitter.com/C3kY8Bxv9m
"É um grande prazer e uma honra estar com o grande príncipe herdeiro Mohammed bin Salman", afirmou o ex-primeiro-ministro no evento. Cerca de um mês depois, no fim de fevereiro, Renzi se defendeu das críticas recebidas na Itália e disse que a Arábia Saudita é um "baluarte contra o extremismo islâmico".
Domanda 3: È giusto intrattenere rapporti con un Paese come l’Arabia Saudita??Non solo è giusto ma è anche necessario. L’Arabia Saudita è un baluardo contro l’estremismo islamico ed è uno dei principali alleati dell’Occidente da decenni (segue)
— Matteo Renzi (@matteorenzi) February 27, 2021
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"Respeitar os direitos humanos é uma exigência que deve ser apoiada na Arábia Saudita, na China, na Rússia, no Oriente Médio, na Turquia. Quem conhece o ponto do qual o regime saudita partiu sabe que o Vision 2030 [programa de modernização econômica promovido por MbS] é a ocasião mais importante para desenvolver a inovação e ampliar direitos", disse Renzi em uma newsletter.
A Arábia Saudita é governada por uma monarquia autoritária baseada no wahabismo, seita radical do Islã sunita que está na raiz ideológica e religiosa de movimentos fundamentalistas e grupos terroristas no Oriente Médio. Essa vertente exportada por Riad influenciou, entre outros, o Estado Islâmico (EI).
Além de limitar os direitos de minorias religiosas, da comunidade LGBT e das mulheres, o regime saudita é acusado de perseguir opositores e dissidentes, como Khashoggi, que foi torturado, morto e esquartejado dentro do consulado do país árabe em Istambul.
Desde então, a Arábia Saudita já forneceu diversas versões sobre a morte do jornalista. Inicialmente, negou o falecimento. Depois, admitiu o assassinato, mas afirmando que havia sido um acidente resultante de uma "briga corporal".
Por fim, o país confirmou que o homicídio foi premeditado, porém descartando qualquer envolvimento do príncipe herdeiro, que tenta emplacar uma imagem de reformista - agentes próximos a MbS estavam no consulado no momento do crime.
Na semana passada, o governo de Joe Biden divulgou um relatório que afirma que o príncipe "provavelmente autorizou" uma operação para "capturar ou matar" Khashoggi. Em sua entrevista à ANSA, Hatice Cengiz cobrou sanções a MbS pelo assassinato do jornalista.
"Mohammed bin Salman pode ordenar o homicídio de uma pessoa inocente e, mesmo depois de todos saberem o que ele fez, não há ainda nenhuma punição. Acho que deve haver sanções contra o príncipe. Precisamos de ações, e não apenas de palavras", declarou. (ANSA)
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