(ANSA) - O jornal americano The New York Times enfureceu internautas italianos ao publicar uma receita de spaghetti alla carbonara, um dos pratos mais tradicionais do país europeu, com molho de tomate.
A receita clássica leva ovo, queijo pecorino, papada de porco (guanciale) e pimenta do reino, mas o "NYT" acrescentou um ingrediente no mínimo inusitado para um molho à carbonara.
"Tomates podem não ser tradicionais no carbonara, mas eles dão um sabor brilhante a esse prato", diz um post publicado pelo jornal no Twitter, ignorando que já existe outra receita típica italiana bastante semelhante, o macarrão à amatriciana (que, além do tomate, leva vinho branco, mas sem ovo).
Tomatoes might not be traditional in carbonara, but they lend a bright tang to this dish. https://t.co/MvyTzcNIMH
— The New York Times (@nytimes) February 18, 2021
— italians mad at food (@ItalianComments) February 18, 2021
A versão de "carbonara" do New York Times substitui guanciale por bacon ("amplamente disponível e com um toque defumado") e pecorino por parmesão, enquanto o molho de tomate é acrescentado antes da mistura de ovo e queijo.
"Essa é a pior coisa que aconteceu com a Itália desde Super Mario Tennis", ironizou o comediante britânico James Felton. "Por favor, não. E se tiverem absolutamente de fazer, não chamem de carbonara, chamem de macarrão com molho de tomate, ovos e qualquer coisa que vocês colocam no lugar do guanciale", escreveu um internauta italiano.
This is the worst thing to happen to Italy since Super Mario tennis
— James Felton (@JimMFelton) February 18, 2021
Please don't. And if you absolutely have to don't call it carbonara, call it pasta with tomato sauce, eggs and whatever you put in there instead of guanciale.
— Francesco Zampieri (@Zampa_VU) February 19, 2021
I have nothing against experimenting, just don't call things something they are not.
"Não entendo por que americanos comem como se tivessem saúde pública universal. Colocar molho de tomate com ovo mexido é indigerível", escreveu outra italiana. "Por que fazer algo tão ofensivo e controverso, sabendo como somos orgulhosos e exigentes sobre nossa comida?", questionou outra internauta no Twitter.
Please don't. And if you absolutely have to don't call it carbonara, call it pasta with tomato sauce, eggs and whatever you put in there instead of guanciale.
— Francesco Zampieri (@Zampa_VU) February 19, 2021
I have nothing against experimenting, just don't call things something they are not.
"might not be traditional in carbonara". Don't call it carbonara, then. Why would you do something so offensive and controversial, well knowing how fussy and proud are we about our food? Call it something else, I dunno, smoky tomato bacon egg pasta for example? FFS.
— Silvia ?????????? (@virides_) February 23, 2021
Já outro usuário citou até a histórica chegada do robô Perseverance a Marte: "Vocês acabaram de pousar em Marte mas não conseguem entender uma receita tão simples".
DNA americano?
Curiosamente, a origem do spaghetti alla carbonara pode estar diretamente ligada aos Estados Unidos.
Segundo o livro "La carbonara perfetta - Origine ed evoluzione di un piatto culto" ("O carbonara perfeito: Origem e evolução de um prato culto", em tradução livre), da jornalista e escritora Eleonora Cozzella, a versão mais aceita pela crítica histórica diz que o prato surgiu de um encontro entre a tradição gastronômica do centro da Itália e a dos EIA.
Sua origem remontaria a 1942, quando o fisiologista americano Ancel Keys, teórico da dieta mediterrânea, inventou um alimento adequado para alimentar as tropas aliadas presentes em Roma na Segunda Guerra Mundial.
Sua ideia previa a adição de gema de ovo em pó e bacon ao espaguete, versão que evoluiria para o carbonara atual, que leva ovo, queijo pecorino e guanciale. A partir dos anos 1950, segundo Cozzella, o prato virou moda nos restaurantes romanos e se dividiu em dois perfis.
Um deles, mais popular, era feito com guanciale ou pancetta, queijo e ovo. O outro, mais "burguês", também contava com cebolas fritas e vinho branco. O primeiro, como mostrou a história gastronômica italiana, acabaria prevalecendo.
A receita foi citada pela primeira vez em um filme italiano de 1951, mas sua primeira versão escrita data de 1952, em um guia de bairro de Chicago, nos Estados Unidos.
A publicação americana, chamada "What's cooking on Chicago's Near North Side", cita uma receita usada por um restaurante italiano, o "Armando's", bastante semelhante à versão mais tradicional.
As únicas diferenças são o parmesão no lugar do pecorino e a pancetta em vez de guanciale, substituições que não incomodam os menos puristas. (ANSA)
Todos los Derechos Reservados. © Copyright ANSA