(ANSA) - Por Sami al-Ajrami - Na entrada da escola da Unrwa, o ente de assistência da ONU no campo de refugiados de Jabalya, no norte de Gaza, estão estacionados carroças e burros. São os meios de transporte das famílias de deslocados, muitos deles agricultores, que no sábado (7) tiveram que abandonar repentinamente suas casas ao norte da Faixa, perto do território israelense.
Fadi Kafarneh, 45 anos, estava em sua casa em Beit Hanun quando apareceu no celular uma imperativa mensagem das forças armadas israelenses, que ordenava que abandonassem o local.
"Me assustei muito e não tive tempo de pegar nada de casa. Pegamos apenas algumas roupas e documentos e fugimos", contou à ANSA.
Enquanto o bairro inteiro se movimentava, a filha de Fadi teve, porém, que ir ao hospital, onde deu à luz, antes da data prevista. Agora ela também está em Jabalya, na escola da Unrwa, estendida com o bebê sobre um colchãozinho colocado à disposição por uma família do bairro, que se comoveu por suas condições.
Nos últimos dias, as ruas de Gaza estão um caos. Na ausência dos serviços municipais, em todo lugar há montanhas de sujeira, junto com os escombros de casas atingidas pela aviação israelense. No interior delas, ainda há buscas por corpos das vítimas.
Segundo fontes médicas, os mortos na Faixa, desde o início da hostilidade, já são 800.
Nas calçadas há homens e rapazes sentados. São obrigados a ficar ao aberto porque seus apartamentos estão lotados de grupos que fugiram de áreas perigosas, e os cômodos internos são reservados às mulheres.
A Unrwa colocou à disposição dos deslocados todas as suas escolas. Ao todo, há lugar para 100 mil pessoas. Mas hoje já são 170 mil. Um caos, e Fadi entendeu rapidamente: "Cada família recebe uma sala. Nós, que somos 13, estamos fechados em uma sala de nove metros quadrados".
No interior só há cadeiras e mesas. As mesas foram reunidas no meio da sala, para garantir às mulheres uma certa privacidade. Os panos são lavados à mão e estendidos na janela.
Não há água potável, nem comida, nem energia elétrica. Nem mesmo colchões. Para matar a fome, cada família recebe 20 pães pita por dia. É assim desde sábado.
Fadi diz: "Não temos dinheiro para comprar víveres. Tentamos receber algo dos moradores deste bairro". Mas no ar, diz a mulher de Fadi, "se respira o medo de novos bombardeios israelenses, e nenhum lugar pode ser considerado seguro".
Ao sul da Faixa, na passagem de Rafah, milhares de palestinos tentam desperadamente deixar Gaza e passar para o Egito.
Hoje, todas as passagens estão fechadas, talvez abram amanhã, mas o Cairo informou até o momento que interrompeu as aberturas indefinidamente.
Se pudesse, Fadi Kafarneh iria ao Egito?: "A minha casa talvez não exista mais, meu bairro está em ruínas, mas eu nunca vou me mudar para o Egito".
Outro deslocado, Said Abu Derrabi, tem opinião oposta. Ele é de Beit Lahya, na fronteira com Israel. "Se pudesse, iria imediatamente", afirma. Faz parte de uma família de 14 pessoas que chegou hoje à escola.
Eles deixaram Beit Lahya imediatamente, após terem visto nas vizinhanças o chamado "cinturão de fogo", ou seja, as ameaçadoras chamas dos bombardeios prolongados ao longo de uma linha determinada.
Os filhos de Abu Derrabi não dormem faz tempo e estão exaustos. Por enquanto estão no pátio, esperando que encontrem um local para eles.
"Até o momento, ninguém que já recebeu uma sala quer dividi-la conosco", dizem, inconsoláveis.
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