Também ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e tido como salvador do euro, o economista afirmou no documento que a UE precisa "mudar radicalmente" para se tornar "mais produtiva" e perderá sua "razão de existir" caso não seja capaz de garantir valores como "prosperidade, igualdade, liberdade, paz e democracia em um ambiente sustentável".
Uma das principais propostas do relatório é que a Comissão Europeia volte a emitir dívida no mercado, aos moldes do sistema utilizado para financiar o fundo de recuperação para o pós-pandemia, para investir em "projetos conjuntos de competitividade e segurança".
O chamado "NextGenerationEu", criado para impulsionar as economias dos Estados-membros após a Covid-19, marcou a primeira vez na história em que o poder Executivo do bloco emitiu títulos de dívida.
Esse sistema permite que países mais endividados, como Itália, Grécia e Portugal, tenham acesso a dinheiro mais barato no mercado, porém é criticado por nações austeras, como Alemanha e Áustria.
"O empréstimo conjunto na UE não resolverá nenhum problema estrutural. Mais dívida pública significa juros, mas não cria necessariamente mais crescimento", declarou o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner, ao repercutir o "relatório Draghi".
O ex-premiê italiano também recomendou o fim do voto por unanimidade nos processos decisórios entre os Estados-membros, sistema que já impediu a implantação de diversas políticas de reforma, e a adoção da maioria qualificada.
"Muitos esforços para aprofundar a integração europeia foram travados pelo voto por unanimidade", escreveu Draghi.
O economista ainda defendeu o aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor de defesa e a criação de uma política externa comum baseada na segurança de "matérias-primas críticas".
Segundo o relatório, a UE precisará investir entre 750 bilhões e 800 bilhões de euros por ano (de R$ 4,6 trilhões a R$ 5 trilhões), o equivalente a cerca de 4,5% do produto interno bruto (PIB) do bloco, para alcançar os objetivos apresentados no documento. Esse montante é mais que o dobro do Plano Marshall, adotado pelos Estados Unidos para reconstruir a Europa após a Segunda Guerra Mundial.
"Seria necessário que a cota de investimentos da UE passasse dos atuais 22% para cerca de 27% do PIB, invertendo um declínio de décadas na maior parte das grandes economias europeias", afirmou.
Em coletiva de imprensa, Draghi alertou que ignorar as propostas do relatório pode levar a UE a um estado de "lenta agonia". Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que a prioridade agora será definir projetos.
"Depois há dois caminhos possíveis: financiamentos nacionais ou novos recursos próprios [emissão de dívida pela UE]. Será a vontade dos Estados-membros que decidirá como agir", salientou.
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