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'Precisamos da natureza', diz brasileiro vencedor de troféu de melhor café do mundo

'Precisamos da natureza', diz brasileiro vencedor de troféu de melhor café do mundo

Fazenda Serra do Boné foi laureada no Prêmio Ernesto Illy

SÃO PAULO, 06 de dezembro de 2024, 19:07

Por Lucas Rizzi

ANSACheck
Matheus Sanglard na Fazenda Serra do Boné, em Araponga (MG) © ANSA/Divulgação

Matheus Sanglard na Fazenda Serra do Boné, em Araponga (MG) © ANSA/Divulgação

Araponga é um pequeno município de apenas 8 mil habitantes nas Matas de Minas Gerais, mas que entrou para o mapa da gastronomia global como lar do melhor café do mundo em 2024.
    A Fazenda Serra do Boné conquistou o troféu "Best of the Best" ("Melhor dos Melhores") no Prêmio Internacional Ernesto Illy, em Nova York, em novembro passado, resultado que é fruto de uma aposta de longo prazo na qualidade e na agricultura regenerativa, modelo de plantio que une a produtividade com a preservação do meio ambiente.
    Segundo os jurados, o café ganhador, produzido a uma altitude média de 1,2 mil metros, é cremoso, doce e encorpado, com um equilíbrio elegante de aromas de frutas frescas, tons de caramelo, notas sutis de açúcar mascavo e um final persistente de chocolate com notas florais de jasmim, uma síntese perfeita de sua origem brasileira.
    "É um reconhecimento muito importante para o Brasil e para a nossa região das Matas de Minas", diz à ANSA o responsável pela propriedade, Matheus Sanglard, que admite ter se "assustado" com o resultado da premiação promovida pela empresa italiana illycaffè entre produtores de nove países: Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda, além do Brasil, vencedor pelo segundo ano seguido.
    "A gente sempre trabalha pensando em resultado, mas tem muita concorrência. Quando fomos premiados, me assustei um pouco, mas foi uma surpresa muito boa", acrescenta. A fazenda foi comprada pelo pai de Matheus, Carlos Sérgio Sanglard, em 1988, quando era usada sobretudo para pastagens.
    Aos poucos, o fazendeiro começou a implementar a cafeicultura e, no início dos anos 2000, decidiu participar de um concurso de cafés especiais, em uma época na qual a fama de Araponga e da região era de produzir grãos de baixa qualidade. O resultado foi o prêmio de primeiro lugar no Brasil, o que incentivou Carlos Sérgio a seguir explorando esse mercado.
    "Continuamos participando de concursos de cafés especiais por vários anos, sempre nas primeiras posições, e a região foi crescendo como um todo. Hoje Araponga é tida como um berço de cafés especiais", conta Matheus.
    Carlos Sérgio faleceu há quatro anos, mas a propriedade ainda é tocada em conjunto por seus filhos, Matheus, Nathan e Karla Mariany, e sua esposa, Sônia. "Essa premiação é uma homenagem a meu pai e vem para consolidar o legado que ele deixou de amor pelos cafés especiais. Se ele puder ver a gente, tenho certeza que está muito feliz", diz.

Fazenda da família Sanglard é conhecida por cafés especiais

 
    A fazenda da família Sanglard já fornece para a illycaffè há vários anos e tem a preocupação com o meio ambiente como um de seus pilares, sobretudo em um cenário de crise climática que vem provocando problemas para cafeicultores mundo afora devido a fenômenos extremos cada vez mais frequentes.
    A região de Araponga ficou sete meses sem chuva em 2024, o que deve impactar na próxima safra, após um 2023 com floradas muito desiguais em função de chuvas antecipadas. Em um ano a água sobra, no outro ela é escassa.
    "A demanda por café no mundo vem aumentando, e os desafios para produzir também crescem cada vez mais. É preciso sentar para discutir como continuar produzindo de forma sustentável. A gente precisa da natureza para produzir, então não tem sentido degradar", alerta Matheus.
    A Fazenda Serra do Boné já plantou de forma orgânica durante um tempo e hoje busca afetar o meio ambiente o menos possível, apostando em práticas de agricultura regenerativa para preservar as características do solo e mantê-lo produtivo por mais tempo.
    Entre as ações adotadas estão o uso de fertilizantes orgânicos, controle biológico e reaproveitamento de produtos de processamento, como a palha de café, bem como realizar roçadas ou capinas em vez de utilizar herbicidas sempre que possível e reduzir os agrotóxicos ao mínimo possível.
    Ao mesmo tempo, Matheus pretende usar o prêmio de melhor café do mundo para explorar e divulgar a imagem de Araponga, inclusive no setor de turismo. "Esse é um dos únicos concursos a premiar um café em nível mundial, o que traz um reconhecimento grande para a região, então temos de aproveitar", afirma.
   
   

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