(ANSA) - O subsecretário de Justiça do governo da Itália, Andrea Delmastro, terá que enfrentar como réu um processo por divulgação de segredo de ofício.
O integrante da gestão Giorgia Meloni é apontado por ter divulgado o conteúdo de documentos sobre o processo do anarquista Alfredo Cospito, preso no regime 41-bis (isolamento total no cárcere) na prisão de Sassari, mesmo sabendo que estavam sob sigilo.
Ao decidir, o tribunal de Roma fixou a data do julgamento para 12 de março, rejeitando o pedido do Ministério Público de não prosseguir com a acusação.
A decisão da juíza Maddalena Cipriani reproduz a sentença anterior da magistrada Emanuela Attura, que em julho passado determinou o indiciamento forçado apesar do parecer do MP.
Na análise do caso, os promotores reconheceram que o sigilo foi violado, mas alegaram que não foi verificada "intenção dolosa".
"Eu não esperava isso, assim como os promotores que pediram minha absolvição duas vezes. Irei a julgamento serenamente", comentou o subsecretário, falando em "anomalia" de um processo em que o réu "está do mesmo lado dos promotores".
Ele afirma que hoje faria as mesmas escolhas: "Estou extraordinariamente orgulhoso de não ter mantido em segredo um fato de gravidade inaudita, ou seja, que terroristas anarquistas em conluio com criminosos mafiosos tentaram realizar um ataque ao 41-bis".
O processo gira em torno de declarações dada pelo vice-presidente do Comitê Parlamentar para Segurança da República (Copasir), o deputado Giovanni Donzelli, colega de partido de Delmastro no Irmãos da Itália (FdI). À época, os dois políticos até mesmo moravam juntos.
Na Câmara, ele relatou o conteúdo de conversas ocorridas durante o “banho de sol” na prisão de Sassari entre Cospito – que depois seria protagonista de uma longa greve de fome em protesto contra o regime de prisão rigorosa - e detentos das máfias Camorra e 'Ndrangheta, também no 41-bis.
As informações foram obtidas pelo parlamentar através de Delmastro, que tem o Departamento de Administração Penitenciária (DAP) sob o guarda-chuva de sua pasta.
As conversas indicavam a esperança de que a luta contra a prisão rigorosa se tornasse uma batalha comum entre chefes mafiosos e o anarquista.
Após a descoberta, durante interrogatório, o parlamentar afirmou que, em sua opinião, não houve "nenhuma revelação", pois o "ato não estava sob segredo".
A mesma posição foi mantida pelo ministro da Justiça, Carlo Nordio, para quem a natureza do documento em questão "não revela conteúdos sujeitos a segredo investigativo ou incluídos na disciplina de atos classificados".
Alfredo Cospito foi condenado a mais de 20 anos de prisão pelo ataque de 2 de junho de 2006 contra a escola de carabineiros de Fossano, em Cuneo, no Piemonte, classificado pelo Supremo Tribunal como "massacre político", crime punível com prisão perpétua, mas que não deixou feridos.
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