(ANSA) - O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou que a União Europeia e o Mercosul podem chegar a um acordo ainda em 2023.
"Penso que 2023 pode ser o ano para chegar ao acordo UE-Mercosul. Falei com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o seu homólogo argentino, Alberto Fernández, e observo boa vontade e impulso político", disse ele, acrescentando que acredita que "a cúpula de julho, em Bruxelas, com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) vai contribuir para uma maior concretização".
A declaração foi dada por Michel durante entrevista a um grupo de mídia internacional, incluindo a ANSA, antes de partir de Buenos Aires, onde participou da cúpula de líderes da Celac, que o deixou com ideias e hipóteses para dar uma nova dinâmica ao acordo comercial com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
"Tanto da parte da UE como no lado regional ainda existem algumas preocupações. Mas é preciso estabelecer prioridades tendo em mente que não é possível resolver todos os problemas do mundo através de acordos comerciais. A atual presidência sueca da UE e a sucessiva espanhola serão importantes para continuar o debate", afirmou Michel, lembrando que o acordo resulta de 20 anos de negociações, entretanto com um mundo mudado, e de um período de estagnação (desde 2019), durante o governo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, "que não deu aos 27 a impressão de querer seguir em frente".
Mas Lula, um "importante parceiro negociador", à frente de um governo moderado e em seu terceiro mandato, certamente oferece maiores garantias, com obstáculos negociáveis que agora parecem totalmente superáveis, para criar as condições "para poder cruzar a linha de chegada do acordo em 2023", acrescentou.
E é justamente nesse contexto que se deve ler a pressão do presidente brasileiro sobre o homólogo uruguaio, Luis Lacalle Pou, que iniciou negociações sozinho com a China.
Por outro lado, o acordo com o Mercosul, para uma população total de mais de 250 milhões de habitantes, significaria a eliminação progressiva de tarifas de produtos europeus nos setores agroalimentar, automotivo, de maquinário, químico, farmacêutico, de vestuário e calçados, beneficiando as empresas da União, com uma economia de bilhões.
Uma oportunidade importante, dada a conjuntura econômica mundial, que Bruxelas quer acompanhar com os investimentos da Global Gateway, a iniciativa europeia, alternativa à Rota da Seda, para contrariar a influência chinesa no mundo, com o "Dragão" também se fazendo sentir na América Latina. Um plano total de 300 bilhões de euros de investimentos até 2027.
"A Global Gateway ajudará a arrecadar fundos para projetos importantes que, de outra forma, teriam dificuldade em encontrar financiamento privado. Por exemplo, aqui estão as maiores reservas de lítio e uma indústria automotiva sólida. Com o Global Gateway, podemos ajudar a construir cadeias de valor para produzir o carro elétrico do futuro, ou produzir ônibus elétricos, para reduzir as emissões no cidades", explicou Michel.
A UE é o principal investidor na América Latina, e o terceiro cliente comercial, com investimentos que se aproximam de um bilhão de dólares, e um fluxo financeiro e tecnológico, que Bruxelas pretende agora intensificar.
No entanto, Michel tranquiliza: "não há temores quanto à expansão de Pequim na região". "Cada um tem a sua agenda e vamos seguir o nosso caminho", alertou ele, encerrando com as palavras do grande escritor franco-argentino Julio Cortázar: "Fomos sem nos procurar, mas sabendo que iríamos nos encontrar. Mal posso esperar para receber os países da Celac em Bruxelas, para continuarmos nosso trabalho juntos".
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