(ANSA) - Violência contra o corpo das mulheres no metaverso, dos avatares à extorsão sexual, passando pelo cyberbulling até a manipulação do consentimento: a internet está abandonando sua vocação inicial "democrática" para tornar-se cada vez mais um território violento.
O alerta foi feito pelo Garantidor da Privacidade da Itália, que reuniu especialistas e estudiosos para refletir sobre esse fenômeno de deriva progressiva da violência "na rede" e "da rede".
A par do "inegável e extraordinário potencial de progresso social", a internet mostra "um lado cada vez mais obscuro, a sua capacidade de se prestar a uma lógica de opressão que acaba por contradizer a sua promessa democrática original", alerta o presidente do órgão, Pasquale Stanzione.
Em suma, a internet "representa não só o 'teatro' da violência, mas também, muitas vezes, um dos seus motores, capaz de alterar profundamente as suas formas de manifestação e implicações na sociedade e na pessoa", acrescenta ele.
Segundo Ginevra Cerrina Feroni, vice-presidente do Garantidor da Privacidade, um exemplo disso é o aumento de casos de pornografia de vingança, considerada uma forma de violência "não irrelevante" que pode levar ao suicídio.
A violência na internet também se expressa nas formas de condicionamento das escolhas políticas como a "violação da autodeterminação individual, levada em consideração pelas plataformas através do microtargeting", lembra Stanzione, alertando para os riscos de uma "manipulação do consenso de modo a alterar profundamente os processos democráticos mais importantes".
De acordo com o presidente do órgão, "através do stalking digital e do consequente perfilamento da pessoa, de fato, modela-se a mensagem comercial, informativa ou mesmo política a promover e a representação da realidade que se considera mais útil fazer, orientando o consenso, mesmo eleitoral, para o resultado desejado".
Além disso, há episódios de agressões sexuais no metaverso, aquelas cometidas contra avatares, que "demonstram como a internet mesmo em sua nova fronteira encarnada, tornou-se um lugar privilegiado para a violação dos corpos femininos", observa Cerrina Feroni.
Os especialistas também falam do "desconforto da civilização de hoje", porque tudo isso deve "nos levar a considerar como devolver a rede à sua promessa original e libertá-la de tudo o que a trai".
Por fim, Giuliano Amato, presidente emérito do Tribunal Constitucional, destacou que a solução deve ser procurada na educação. "A culpa não é do Facebook, da internet ou da Big Tech: a culpa é nossa".
"O Antitruste e as autoridades são úteis, mas o que é mais necessário é a família. Na escola, é preciso dar aos jovens um "eu" forte, porque o mal passa pelas fraquezas", concluiu Amato.
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