"O cinema, a comida, a cultura, bem como os amigos, foram os motivos do profundo carinho que o escritor colombiano Gabriel García Márquez nutria pela Itália, um de "seus países favoritos", afirmou Rodrigo García Barcha, o filho mais velho do Nobel de Literatura, em entrevista à ANSA.
"Meu pai foi um grande amante da Itália, um de seus países favoritos. Quando morávamos em Barcelona, viajávamos para a Itália em muitos verões, às vezes de Milão até Sicília, ida e volta. E, acima de tudo, tinha muitos amigos cineastas, mais cineastas que escritores", contou Rodrigo, de 63 anos.
O neorrealismo italiano, surgido pós-guerra, foi o movimento cinematográfico preferido de "Gabo", como chamava Rodrigo, seus amigos e os colombianos por García Márquez, quem conquistou grandes amizades entre cineastas, poetas, roteiristas e atrizes da Itália.
"Tudo da Itália, a cultura, a comida, o país, a cultura camponesa, a cultura urbana; [Giacomo] Leopardi, Dante; ou seja, é um país que está sempre muito perto da nossa casa e muito presente na vida dos meus pais; amigos como Francesco Rosi, [Antonio] Nino Guerra, Monica Vitti (María Luisa Ceciarelli), Carlos Di Palma; ou seja, muitos italianos na vida dos meus país", afirmou.
Foi por causa dessa amizade que o escritor colombiano permitiu ao diretor Francesco Rosi levar ao cinema uma de suas obras, "Crônica de uma morte anunciada", baseada em um fato real ocorrido no Caribe colombiano, mas escrito em tom de drama grego.
O filme foi lançado em 1987, as filmagens ocorreram no norte da Colômbia, com Ornella Muti como protagonista, apesar de Gabo ter proposto a Rosi fazer o longa na Sicília.
"Em algum momento, quando Francesco Rosi falou pela primeira vez sobre fazer 'Crônica de uma morte anunciada' como um filme, Gabo disse a ele: "Por que você não faz isso na Sicília?'. Ele pensou que poderia ser uma história siciliana muito boa, mas Francesco Rosi queria fazer na Colômbia", lembrou Rodrigo em entrevista à ANSA.
O filho mais velho do escritor de "Cem Anos de Solidão" reconheceu que a Itália não estava nos planos de residência de seus pais, já que Gabo e sua mãe, Mercedes Barcha, sempre desejaram estar na América Latina e, por isso, se estabeleceram por mais de três décadas na Cidade do México, onde ambos morreram: ele em 17 de abril de 2014, ela, em 15 de agosto de 2020.
"Meus pais viveram vidas extraordinárias, muito sortudos como toda pessoa, com momentos baixos, mas em geral muito privilegiados. Viveram muito tempo, até os 87 anos, depois foi triste perde-los, mas não foi uma tragédia", admitiu Rodrigo.
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