O ano de 2024 ficará para sempre marcado pela maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul e de todo o Brasil, que deixou 183 mortos, 27 desaparecidos e cidades inteiras debaixo d'água, mas o estado iniciará 2025 em plena retomada, com um processo de reconstrução que abre oportunidades a empresas estrangeiras e conta com participação ativa da comunidade ítalo-gaúcha.
"Muitas empresas estrangeiras têm nos procurado, há um interesse grande internacionalmente, e nós temos tentado aproveitar todas essas oportunidades. E as empresas italianas já estão muito presentes aqui e são muito fortes em diversos setores", diz o secretário estadual da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, em entrevista à ANSA, acrescentando que o Rio Grande do Sul quer ser "referência nesse processo de resiliência e adaptação".
Prova dessa retomada é o desempenho da economia de Caxias do Sul, motor industrial da Serra Gaúcha e que acumula crescimento de 7,4% entre janeiro e outubro de 2024, apesar de a cidade, um dos berços da imigração italiana no estado, ter sido duramente afetada pela catástrofe.
"Esse desempenho reflete a garra, a dedicação e a resiliência do povo gaúcho, em especial da comunidade italiana da Serra. Mesmo diante de adversidades severas, a região não se deixou abater, mostrando um espírito de superação e trabalho intenso para colocar a economia de volta nos trilhos, e esse esforço coletivo já está trazendo resultados concretos", afirma o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Celestino Oscar Loro.
A entidade é a principal promotora da campanha SuperAção Serra Gaúcha, que financiou iniciativas em prol da mobilidade e da segurança das comunidades, incluindo restabelecimento de pontes, liberação de acessos no interior e investimentos em ações meteorológicas de prevenção e mitigação de fenômenos climáticos. E tudo isso com participação intensa de empresas com sangue italiano, como Marcopolo e Randoncorp.
"As empresas com raízes na comunidade ítalo-descendente têm desempenhado um papel fundamental nos esforços de reconstrução. Elas não apenas lideraram iniciativas para restabelecer infraestruturas mínimas, mas também se engajaram em campanhas de solidariedade", afirma Loro.
As oportunidades criadas pela reconstrução se concentram principalmente na infraestrutura, com demanda significativa em investimentos em resiliência climática, como estações meteorológicas, sistemas de alarme e obras de contenção de águas, mas também em inteligência e análise de dados para prevenção de desastres.
"Essas iniciativas, alinhadas ao Plano Rio Grande, oferecem um campo promissor para empresas interessadas, incluindo as estrangeiras", explica o presidente da CIC Caxias, citando o programa de retomada gerido pela Secretaria da Reconstrução Gaúcha, que já investiu mais de R$ 4 bilhões até 13 de dezembro.
O Plano Rio Grande reúne ações emergenciais e obras de reconstrução, mas também iniciativas de longo prazo para aumentar a resiliência e diversificar a economia do estado. "É o nosso Plano Marshall", diz Capeluppi. As prioridades no momento são a conclusão das moradias para pessoas desabrigadas e a recuperação das principais vias de ligação, enquanto outras obras devem levar mais tempo, como a construção de novos diques e casas de bombas, sobretudo na região metropolitana de Porto Alegre. "Temos uma convicção muito grande de que o caminho é esse", salienta o secretário.
Presença italiana
Já o cônsul-geral da Itália em Porto Alegre, Valerio Caruso, destaca a importância do "empreendedorismo ítalo-gaúcho" para a retomada. "Assim como aconteceu há 150 anos, acredito que os ítalo-gaúchos serão protagonistas desse processo que vai transformar novamente a realidade do nosso estado", diz.
Em 2025, o Rio Grande do Sul celebra o 150º aniversário da imigração italiana no estado, e o Consulado pretende fazer com que a efeméride "represente uma oportunidade para a retomada, através da valorização das excelências gaúchas claramente enraizadas na cultura italiana, como o vinho e a gastronomia".
"Terminamos este ano com uma grande determinação. O clima que se respira no ar é de grande otimismo", acrescenta.
De acordo com Caruso, 2025 também marcará a reabertura da Câmara de Comércio Italiana no Rio Grande do Sul, sob presidência do empresário do agronegócio Erasmo Carlos Battistella, que terá como vice Gelson Castellan, presidente do conselho de acionistas da marca de móveis Florense e cônsul honorário da Itália em Caxias do Sul.
"A retomada da Câmara de Comércio é uma oportunidade extraordinária de estreitar laços comerciais com a Itália. Recebo empresários italianos que chegam aqui pela primeira vez e se dão conta de uma realidade extraordinária e que os deixa muito surpresos", afirma o diplomata.
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