Após o discurso oficial, quando a cerimônia no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro, estava prestes a terminar, o presidente da Itália, Sergio Mattarella, se levantou, se aproximou do microfone e voltou a falar.
Na oportunidade, o mandatário destacou o significado do aniversário de 150 anos da imigração italiana no Brasil, um país definido por ele que "dá lições de civilidade não apenas com o acolhimento e o crescimento social dos imigrantes, mas também com a capacidade de tornar cidadãs as pessoas que chegam de muitas partes do mundo, mesmo sabendo que têm origens e ancestrais de outros países".
Palavras claras que atravessam o Atlântico e que serão lidas com atenção na Itália, onde o "desafio dos migrantes" está no centro das atenções do governo.
No discurso improvisado de Mattarella, o presidente abordou outro tema que liga o alarme para uma democracia em sofrimento à incapacidade do Ocidente de expressar inovação com o avanço das instituições multilaterais.
O chefe de Estado ainda pediu para "pensarmos em termos inovadores", pois o "mundo precisa de novas energias". "Os velhos protagonistas não devem ser deixados de lado, mas são insuficientes e inadequados para os problemas globais que o mundo apresenta", afirmou.
Outros temas já abordados no discurso oficial foram emendados por Mattarella. O termo "velhos protagonistas", usado pelo italiano, está ligado aos órgãos internacionais que governam o multilateralismo.
"Para evitar um retorno de concepções dos séculos 18 e 19, como está acontecendo na Europa, são necessários novos protagonistas da vida internacional, não como um sentido de vingança, mas no sentido de protagonismo que dá indicações", acrescentou.
Em uma entrevista à emissora CNN, Mattarella defendeu a União Europeia. "Recebemos um enorme benefício de todos os países que dela fazem parte", disse o mandatário em São Paulo.
Enquanto Mattarella discursava no Rio de Janeiro, era votado em Bruxelas, na Bélgica, a confirmação de Ursula von der Leyen como chefe da Comissão Europeia, com o sim dos Verdes e sem o voto dos Irmãos da Itália (FdI).
O presidente não deixou de sublinhar como permanece a "urgência de uma transição verde que seja concreta, pragmática, sustentável e eficaz. Abordamos de forma inadequada a questão da proteção ambiental e das alterações climáticas durante muito tempo".
"A Itália, juntamente com os restantes Estados-membros da União Europeia, também está fortemente empenhada na luta contra as alterações climáticas, promovendo a transição energética", comentou.
Juntamente com a Rússia e a China, e depois também a Índia e a África do Sul, o Brasil esteve entre os fundadores do grupo dos Brics. Neste ano, a nação lidera o G20, enquanto a Itália preside o G7.
"Noto com verdadeira satisfação que existe um amplo acordo entre as presidências do G7 e do G20. Um desalinhamento poderia ser um erro imperdoável e cheio de consequências", disse Mattarella.
Na visão de Mattarella, é necessário "estar alinhado às boas causas", principalmente para "colocar ênfase na inclusão social, na luta contra a pobreza e a fome, no desenvolvimento sustentável, na transição energética e no respeito da soberania e integridade territorial de todas as nações".
"É um alinhamento que apela, em primeiro lugar, às grandes democracias, a começar pelas do hemisfério sul: Brasil, Índia, África do Sul e Indonésia", comentou.
"Há algum tempo, um presidente de um país europeu me disse: 'Estamos defendendo a identidade genuína e autêntica dos europeus'. Eu respondi a ele: 'Desde a época do Império Romano temos sofrido migrações e invasões, o próprio Império Romano foi o resultado da comunhão entre diferentes grupos étnicos, populações e realidades. Isso tem acontecido ao longo do tempo e dos séculos e não nos importamos com o resultado final'", analisou.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA