O bloqueio da rede social X pelo Supremo Tribunal Federal (STF) será o pano de fundo para uma manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL) para este sábado (7), na Avenida Paulista, em São Paulo, em mais uma tentativa do ex-presidente de demonstrar força na política nacional, faltando um mês para o primeiro turno das eleições municipais.
Organizado pelo pastor evangélico Silas Malafaia e impulsionado por Elon Musk, dono do antigo Twitter, o protesto deve ter como alvo principal o ministro Alexandre de Moraes, pivô da disputa com o bilionário. Em fevereiro passado, Bolsonaro já havia reunido uma multidão de apoiadores na mesma Avenida Paulista, ato que, apesar da magnitude, teve poucos efeitos práticos.
Em entrevista à ANSA, o cientista político e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando disse que o ex-mandatário demonstra "um claro sinal de força política".
"Nunca houve um ex-presidente com presença tão forte no cenário, ainda que inelegível e derrotado", acrescentou.
Segundo Prando, "os bolsonaristas construíram uma narrativa muito bem coerente" para explicar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 e a condenação que tornou Bolsonaro inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
"Na perspectiva deles, há uma perseguição institucional, especialmente por conta do Supremo Tribunal Federal e na figura de Moraes", explicou o cientista político, acrescentando que o bolsonarismo "capturou o 7 de setembro", Dia da Independência, assim "como outros símbolos, incluindo a bandeira e a camisa da seleção brasileira".
Por sua vez, o professor Frederico Bertholini, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), explicou que o ex-presidente tenta aproveitar "todo o espaço que tiver para fazer uma aparição pública e fora das redes". Enquanto isso, seus eleitores e candidatos que o apoiam agem como se ele não estivesse inelegível.
"A questão é que agora Bolsonaro é um pouco menos perigoso, porque tem menos condições institucionais, materiais e objetivas de fazer coisas", ponderou.
Outro combustível para a manifestação serão os áudios publicados pelo jornal Folha de S. Paulo, que indicam que Moraes usou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fora do rito para investigar bolsonaristas no inquérito das fake news no STF durante e após as eleições de 2022.
"É voltar a um tema em que ele [Bolsonaro] fica absolutamente confortável, que é o de perseguido, daquele que luta contra o sistema", afirmou Prando. A seu lado no trio elétrico, o ex-presidente terá parlamentares de extrema direita, Malafaia e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, mas ainda é incerto qual será o tom adotado por Bolsonaro em seu discurso, especialmente em relação ao STF.
"Ele permanece sendo protagonista, e essas figuras que vão declarando apoio a qualquer tipo de manifestação é para surfar na sua onda, nesse apelo popular que ele tem com eleitores de direita e extrema direita", concluiu Bertholini.
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