(ANSA) - O plenário da Câmara dos Deputados da Itália aprovou por unanimidade nesta quinta-feira (23) a criação de uma Comissão Parlamentar Bicameral de Investigação sobre os casos de desaparecimento das jovens cidadãs Emanuela Orlandi e Mirella Gregori. Agora, o texto segue para a aprovação do Senado.
As duas adolescentes sumiram em 1983 e, até hoje, não há nenhuma solução para os casos.
O deputado governista do Força Itália, Paolo Emilio Russo, destacou que esse é o momento certo para buscar a verdade nesses casos "que não são algo policial comum". Além disso, ressaltou que é preciso falar com os envolvidos "antes que as últimas testemunhas morram".
"Uma comissão de investigação, porém, não é algo para apontar alguém, mas sim para encontrar a verdade. O jornalismo italiano teve um papel insubstituível nesses casos e esperamos que possamos trabalhar juntos para escrever uma relação unitária - e isso seria uma maneira de honrar essas duas meninas", acrescentou o parlamentar.
O líder na Câmara do partido populista Movimento 5 Estrelas (M5S), de oposição, Francesco Silvestri, pontuou ainda que se observa "que há 40 anos era o momento certo de fazer uma comissão de investigação".
"Agora, a gente precisa converter para apenas um objetivo, aquele da verdade, também sobre as ações do Vaticano daquela época e do comportamento do Estado". Ainda conforme o político, são 40 anos se questionando se o sumiço das duas "têm ligações" com a Banda della Magliana, que entre os anos 1970 e 1990 era a principal organização criminosa que atuava em Roma e que teria ligações com um arcebispo católico chamado Paul Marcinkus.
Já a deputada da Liga Simonetta Matone ainda pontua que há outras teorias que devem ser estudadas a fundo, como "a história do duplo pedido de resgate, o papel de Ali Agca [turco que tentou assassinar João Paulo II] e o enterro do corpo de [Enrico] De Pedis dentro de uma das mais importantes basílicas romanas".
De Pedis era um dos líderes da Magliana e morreu em 1990. Após uma exumação, foi confirmado que seus restos mortais estavam na Basílica de Santo Apolinário, um local onde apenas religiosos deveriam ser colocados. Em 2012, seus restos foram retirados do local e ele foi cremado.
Um dos líderes da oposição, Roberto Morassut, do Partido Democrático (PD), destacou que "a magistratura que devia investigar sempre se encontrou perante um muro de granito enorme, como o Vaticano, que nunca colaborou para encontrar a verdade".
Mirella Gregori tinha 16 anos no dia em que desapareceu, em 7 de maio de 1983. Ela saiu de casa para encontrar um colega de sua classe após receber um telefonema e nunca mais foi localizada.
Já Emanuela Orlandi, 15, é filha de um funcionário da Santa Sé, cidadã do Vaticano, e residia dentro dos muros do menor país do mundo. Ela desapareceu em 22 de junho do mesmo ano enquanto voltava para casa.
Irmão de Orlandi celebra
O irmão de Emanuela Orlandi, Pietro, comemorou a decisão da Câmara dos Deputados.
"A proposta da comissão passou por unanimidade, com 245 votos favoráveis em 245. Há a vontade de esclarecer. Hoje senti a proximidade das instituições e também, devo dizer, afeto. Isso porque ver todos presentes no plenário, ao fim da votação, levantarem-se e aplaudir na direção da tribuna em que estávamos, me atingiu e comoveu", disse Pietro.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA