(ANSA) - A Câmara Municipal da ilha italiana de Lampedusa declarou nesta quarta-feira (13) estado de emergência após a onda sem precedentes de desembarques de migrantes.
O prefeito, Filippo Mannino, anunciou a medida após um protesto de um grupo de cidadãos em frente à prefeitura.
"Reforçamos o que pedimos há meses, ou seja, contornar a ilha com os navios no porto, ajuda e apoio para uma ilha que nestes meses está sob forte stress", disse Mannino.
O clima é tenso no local, e agentes da Guarda de Finanças chegaram a avançar sobre migrantes que tentaram romper o cordão de isolamento para descer do cais.
A terça-feira (12) teve recorde de desembarques, com 110 embarcações e 5.112 pessoas, e mais 23 embarcações aportaram desde a meia-noite (hora local) desta quarta-feira (13).
Durante a madrugada, um bebê de cinco meses morreu após cair nas águas, já na ilha.
Já nesta quarta (13), foram registrados 51 desembarques, com 2.154 migrantes.
"A questão das realocações é secundária, foram realocadas pouquíssimas pessoas nos últimos meses, a questão não é como descarregar o problema, é impedir as chegadas à Itália, não vejo ainda respostas concretas", disse a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, em entrevista à Rai1, após o anúncio da Alemanha sobre interromper as avaliações de solicitações de asilo.
No momento há 6.792 migrantes na ilha, a maior parte no "hotspot" - centro de acolhimento - de contrada Imbriacola, que tem capacidade para 350, e outros grupos estão no cais.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou nesta quarta: "Os esforços não podem ser feitos só pelos países de chegada, mas devem ser compartilhados, esse é um problema da UE e deve haver mecanismos de solidariedade".
"No fluxo há refugiados e pessoas que se deslocam por razões econômicas. Todos devem ter os próprios direitos humanos respeitados, mas há um modo para distinguir o status de refugiado. Em todo caso, é essencial a solidariedade europeia", concluiu.
Já o vice-premiê e ministro dos Transportes, Matteo Salvini, classificou a situação como "ato de guerra": "Quando chegam 120 barcos não é um episódio espontâneo. É o colapso para a sociedade italiana, não só um problema de Lampedusa".
"Estou convencido de que esse êxodo é orquestrado. Falaremos pacificamente no seio do governo italiano, mas não podemos assistir a cenas como essa. Creio que por trás de cada desembarque haja um sistema criminoso organizado ao qual devemos responder com todos os meios disponíveis".
O pároco da ilha, Dom Carmelo Rizzo, disse em uma entrevista ao portal Stranierinitalia.it que a situação é “trágica, dramática, apocalíptica”: “Em Lampedusa nem o lixo é descartado, a água para a ilha chega do continente”.
“A Cruz Vermelha tem estoques, mas se chegam 3,4 mil por dia, brigam entre eles até por água. Estamos todos em alerta”, concluiu o religioso.
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