A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, bandeira do Brasil enquanto presidente do G20 em 2024, terá sedes em Brasília e em Roma, capital da Itália.
O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (24), no Rio de Janeiro, durante a reunião da força-tarefa ministerial criada pelo governo brasileiro para impulsionar a iniciativa dentro do bloco.
A aliança foi aprovada pelos membros do G20 por aclamação e será lançada oficialmente na cúpula do grupo em 18 e 19 de novembro, também no Rio de Janeiro, mas já está aberta a adesões do mundo todo - quem entrar nos próximos quatro meses será considerado membro fundador.
"A aliança será gerida com base em um secretariado alojado nas sedes da FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] em Roma e Brasília. Sua estrutura será pequena, eficiente e provisória, formada por pessoal especializado, e funcionará até 2030, quando será desativada. Metade dos seus custos serão cobertos pelo Brasil", disse Lula.
"Participar da reunião ministerial dessa força-tarefa é um dos momentos mais relevantes dos 18 meses de meu terceiro mandato. Damos um passo decisivo para colocar esse tema de uma vez por todas no centro da agenda internacional", acrescentou.
Segundo Lula, a persistência da fome e da pobreza "em pleno século 21" é "absurda e inaceitável", sobretudo "quando temos à disposição tanta abundância e tantos recursos".
"Nenhum tema é mais atual e desafiador para a humanidade. Não podemos naturalizar tais disparidades. A fome é a mais degradante das privações humanas, é um atentado à vida, uma agressão à liberdade", afirmou o presidente, destacando que a má nutrição "tem o rosto de uma mulher e a voz de uma criança".
Lula também criticou o "protecionismo contra produtos de países em desenvolvimento" e disse que a fome "decorre sobretudo de escolhas políticas", uma vez que o mundo produz "alimentos mais que suficientes para erradicar" o problema.
"Enquanto isso, os gastos com armamentos subiram 7% no último ano, chegando a US$ 2,4 trilhões. Inverter essa lógica é um imperativo moral de justiça social e essencial para o desenvolvimento sustentável que buscamos", ressaltou.
Além disso, o mandatário voltou a mirar a concentração de renda no planeta. "A riqueza dos bilionários passou de 4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas três décadas. Alguns indivíduos controlam mais recursos que países inteiros, outros possuem até programas espaciais próprios", declarou, em referência velada a Elon Musk.
"Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos que a classe trabalhadora. Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global", afirmou.
De acordo com o presidente, o G20 foi "fundamental" em 2008 para "evitar o colapso da economia mundial", mas agora os líderes do grupo têm diante de si a oportunidade de responder a esse outro desafio sistêmico".
Lula ainda salientou que a implementação dos projetos da aliança será liderada pelos países beneficiados, já que "cada um conhece seus verdadeiros problemas". "Todos os que queiram se somar a esse esforço coletivo serão bem-vindos. A aliança global nasce no G20, mas é aberta ao mundo", garantiu.
Para o mandatário, a "fome e a pobreza inibem o exercício pleno da cidadania e enfraquecem a própria democracia", e "erradicá-las equivale a uma verdadeira emancipação política para milhões de pessoas".
"Só em 2023, retiramos 24,4 milhões de pessoas da condição de insegurança alimentar severa. Ainda temos mais de 8 milhões de brasileiras e brasileiros nessa situação. Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemos em 2014", afirmou Lula, prometendo tirar o país do mapa da fome antes do fim de seu mandato, em 2026. (ANSA)
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