(ANSA) - Diversos expoentes da política italiana protestaram nesta quinta-feira (12) pela decisão da Irlanda de adicionar etiquetas alertando para o risco do consumo de álcool em bebidas como vinho, cervejas e destilados em geral.
As mensagens querem avisar que o consumo de álcool pode provocar "doenças no fígado" ou "tumores mortais" e também para que mulheres grávidas evitem esse tipo de bebida.
A medida foi apresentada em junho do ano passado na União Europeia e não foi alvo de protestos formais da Comissão durante o período de seis meses de moratória, encerrados agora, apesar dos protestos da Itália, da Espanha e de outros seis Estados-membros. Com isso, não há impedimento para a decisão entrar em vigor.
"Absurda a decisão da Irlanda de introduzir um etiqueta para todas as bebidas alcoólicas, incluindo o vinho italiano, mesmo com a contrariedade do PE [Parlamento Europeu]. A escolha ignora a diferença entre o consumo moderado e o abuso de álcool. Pedirei uma intervenção da Comissão UE na OMC [Organização Mundial do Comércio]", disse o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani.
Mesma linha foi adotada pelo ministro da Agricultura e da Soberania Alimentar, Francesco Lollobrigida, que chamou a decisão de "gravíssima".
"Acredito que por trás dessa escolha, mais uma vez, se mire não a garantia da saúde, mas condicionar os mercados, e que a decisão nesse sentido vem de nações onde não se produz vinho e onde se abusa dos 'superalcoólicos'. Isso equipara os vinhos aos 'superalcoólicos'", pontuou.
O subsecretário da mesma pasta, Luigi D'Eramo, destacou que "não é criminalizando certos produtos que se protege a saúde pública" e que, para os italianos, "o vinho é história, cultura, expressão dos territórios, parte da dieta mediterrânea, qualidade e consumo responsável".
Já a divisão da Toscana da principal associação de agricultores da Itália, Coldiretti, afirmou que a decisão "é um ataque direto contra o produto feito na Toscana e mais vendido e conhecido no exterior".
"Coloca em perigo mais de quatro milhões de exportações só de bebidas, um quarto do total que vai todo ano para a Irlanda. Trata-se de um perigoso precedente que corre o risco de afetar a sobrevivência de quase 13 mil empresas regionais e a mais de 1 bilhão de euros em exportação de vinhos", informou.
Para o presidente da Coldiretti Toscana, Fabrizio Filippi, é "impróprio" comparar o "excessivo consumo de 'superalcoólicos, típico dos países nórdicos, com o consumo moderado e consciente de produtos de qualidade e mais baixa graduação [alcoólica] como a cerveja e o vinho que no nosso país tornou-se símbolo do estilo de vida".
No entanto, o diretor do Observatório Nacional do Álcool do Instituto Superior de Saúde (ISS), ligado ao governo italiano, Emanuele Scafato, pontua que "as evidências científicas indicam que não é possível definir uma quantidade segura de álcool em relação a eventuais danos à saúde".
"Por isso, a etiqueta em bebidas alcoólicas com mensagens de alerta garante o direito à escolha informada por parte do cidadão. Segundo os últimos dados da literatura científica, com estudos publicados na 'Lancet' [revista científica] não existe quantidade que se pode definir como totalmente isenta de potenciais danos à saúde humana", acrescentou.
Para Scafato, "não há estudos que demonstrem que eventuais efeitos protetores de alguns produtos alcoólicos superem os efeitos de danos à saúde".
Carta à UE
Tajani e Lollobrigida enviaram uma carta formal ao comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, para pedir que o bloco intervenha na decisão da Irlanda.
Para os italianos, a normativa pode levar a “efeitos distorcidos” dentro do mercado interno da UE e pode incidir negativamente nas linhas produtivas mais importantes da economia italiana.
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