A Delegação da União Europeia no Brasil realizou nesta quarta-feira (15), no Ibmec, em São Paulo, um debate com os russos premiados, por meio de suas instituições, pelo Nobel da Paz e que discutiu a visão deles sobre liberdade de imprensa, guerra e paz na Ucrânia.
Pavel Andreyev é membro do conselho de administração da ONG russa Memorial, uma das entidades premiadas em 2022, e Kirill Martynov é chefe de redação do jornal Novaya Gazeta Europe, que teve seu cofundador e editor chefe Dmitri Muratov agraciado com o Nobel em 2021. Também participou do evento o jornalista independente e analista de assuntos da Rússia, Konstantin Eggert.
Entre os principais assuntos debatidos, estava a questão da liberdade de jornalismo no país sob o governo de Vladimir Putin, já que praticamente todos os portais e jornais independentes foram tirados do ar e há leis que punem profissionais do setor que fazem matérias sem seguir a versão oficial do governo.
Martynov relatou que, basicamente, o Novaya Gazeta ainda mantém repórteres em várias regiões, mas as notícias publicadas são "mais gerais". Já a versão europeia, relata os fatos de maneira independente. Apesar de ser cético que esse tipo de publicação ainda dure muito tempo dentro da Rússia sob Putin, o chefe de redação destacou que a mídia está disponibilizando "ferramentas úteis para a população se informar", como VPNs para conseguir driblar a censura oficial.
Sobre o futuro, Martynov destaca que "dois cenários são possíveis, o que ocorreu pós-Revolução Russa" com diversos jornalistas e escritores que se exilaram durante o conflito, mas que não retornaram ao país. Ou o mais recente, no fim da União Soviética, em que houve uma "transição para maior liberdade".
"Temos uma chance de repetir isso porque algumas empresas conseguiram sobreviver", ressaltou.
Já Andreyev se mostrou cético porque considera que depende muito de como tudo isso vai acabar e as leis contra a imprensa livre recentemente aprovadas "não vão ser revogadas logo, vão continuar". "Acredito que muitos não vão voltar porque é perigoso", pontuou ainda.
Sobre as sanções ocidentais impostas contra o regime de Putin, as visões foram divergentes. Desde o início da guerra na Ucrânia, a União Europeia já implementou 10 pacotes diferentes contra o governo, empresas, organizações e civis ligados ao Kremlin. Também Estados Unidos, Reino Unido e demais membros do G7 adotaram medidas semelhantes.
Para Martynov, as punições acabam não chegando na população e há problemas em comunicar os russos sobre quais são as medidas adotadas. No entanto, ressaltou que elas afetam "o poder de Putin de fazer a guerra, especialmente, quando afetam as questões de gás e petróleo [...] e reduzem a capacidade de obter novas tecnologias".
Já Eggert ressaltou que vê as sanções como muito importantes, especialmente no longo prazo, porque "provocar o isolamento da Rússia nesse momento pode ajudar a parar a guerra". "As sanções não são para mudar o regime político, mas para parar a guerra", ressaltou.
Planos de paz
Ao serem questionados sobre como veem as propostas de paz para o fim do conflito, os três se mostraram mais céticos porque não acreditam que nem Putin, nem Volodymyr Zelensky querem fazer um acordo do tipo agora.
No caso do líder de Kiev, eles concordam que ele sequer teria apoio popular para sentar à mesa de negociações nesse momento do conflito.
Até o momento, a China apresentou seu memorando de opinião em que pontuava 12 pontos para a paz. Além disso, o Brasil, a Turquia e o Vaticano também já anunciaram que estão disponíveis para intermediar as conversas do conflito. Mas, todos afirmaram que para ter negociações, não é possível equivaler os dois lados.
Eggert diz que "seria ótimo" se o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, "aceitasse o convite de Zelensky para ir a Kiev, e conhecesse Bucha, e daí seria possível perguntar qual plano de paz ele tem". A cidade citada além da capital foi um dos palcos de um massacre de cerca de mil civis, enterrados em fossas comuns ou com os corpos largados pelas ruas.
Martynov pontua que esses anúncios de países fora do conflito se dizendo interessados na paz são "úteis", como no caso das votações das resoluções das Nações Unidas, para mostrar para os russos que não é uma questão de "Ocidente contra a Rússia", mas que também na "América Latina as pessoas não estão felizes com uma guerra ali".
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