(ANSA) - Trinta e três países, da Argentina a Cuba, em boa parte fiéis ao princípio de neutralidade sobre a guerra na Ucrânia: isso bastaria para explicar os riscos e as sombras da cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que será realizada nos próximos dias 17 e 18 de julho em Bruxelas.
A cúpula, fortemente desejada pela presidência espanhola, surge depois de oito anos de silêncio e, como explica um alto responsável da UE, marca antes de tudo um fato: "o retorno das relações" entre os dois continentes e o relançamento de uma série de parcerias comerciais que, com a guerra no Oriente, a Europa de repente ganhou prioridade.
No entanto, poucas horas antes da cúpula, as negociações sobre as conclusões permanecem difíceis. Uma nova reunião dos representantes dos 27 Estados-membros da União Europeia pode ser convocada no domingo para tentar a equipe final.
Neste momento, de acordo com fontes europeias, "a divisão entre as partes está a diminuir". Sim, porque até poucos dias atrás parecia impossível. A Celac tinha respondido ao projeto enviado de Bruxelas com uma contraproposta em que nem sequer se falava da guerra na Ucrânia e onde se voltava a ressaltar a necessidade de uma indenização europeia pelo período colonial e pela prática da escravatura.
O texto chegou às mesas da UE em meio à surpresa dos países mais dialogantes e à ira daqueles que, há algum tempo, traçaram uma linha vermelha "erga omnes" ("Para todos") sobre a Ucrânia. O problema é que até o diálogo com a Celac parecia pesado.
A organização carece de uma secretaria-geral e sua presidência pro-tempore é exercida por Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, uma pequena ilha caribenha cuja influência geopolítica na área só pode ser marginal.
A suspeita da participação de Cuba, Nicarágua ou Venezuela no contraprojeto surgiu quase automaticamente entre os diplomatas europeus. As negociações, no entanto, nunca foram interrompidas.
O rascunho foi significativamente reduzido, a possibilidade de um link de vídeo do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi excluída. A ideia da UE para sair do impasse é incluir na declaração pelo menos a referência às resoluções da ONU sobre a invasão da Rússia.
E a pressão está crescendo, em Cuba e na Nicarágua, para que os dois países repudiem o referendo russo de 2014 no Donbass.
No dossiê do colonialismo, a referência à Declaração de Durban de 2001, segundo a estratégia de Bruxelas, poderia ser um ponto de encontro aceitável.
O risco, para a UE, é que os nós ofusquem as notícias positivas de uma cúpula que surge no final das várias missões das missões da UE na América do Sul. De um total de 33, são esperados em Bruxelas 26 chefes de estado ou de governo da Celac, incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
A luta contra as mudanças climáticas será um importante ponto de encontro, enquanto uma referência ao Mercosul nas conclusões ainda é incerta. Mas se falará sobre as alterações comerciais.
Em 2021, os investimentos diretos da União Europeia nos países da Celac superaram os 600 bilhões de euros. E o objetivo, para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é estreitar ainda mais as relações em chave, também, antichinesas.
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