Em sua primeira semana como presidente eleito da Argentina, o líder da Liberdade Avança, não apenas mudou seu visual - preferindo um terno azul de bom corte cortado a uma jaqueta de showman - mas mudou sobretudo - suavizando, limpando e adaptando - o seu programa de governo, que olha para os Estados Unidos e para a União Europeia, cujos quais afirma "compartilhar os valores".
Ele não romperá relações comerciais com Brasil e China, e da política externa à econômica, nas últimas 168 horas Javier Milei trabalhou para reformular suas propostas, abrindo-as a um mosaico de alianças que lhe garantem a governabilidade no Congresso, onde caso contrário não teria os números.
O ultraliberal nomeou ministros, destituindo-os no dia seguinte, para dar lugar aos candidatos de seu principal aliado, o ex-presidente conservador Mauricio Macri, mas também a expoentes do El Gringo, o governador de Córdoba Juan Schiaretti (Partido Justicialista), adversário na disputa pela Casa Rosada, derrotado no primeiro turno.
Um quadro de acordos - sob a direção de Macri - que estabilizam o governo de Milei, e o fortalecem em relação à tomada de posse de 10 de dezembro, fazendo uma mudança para uma postura institucional, depois de uma campanha eleitoral desordenada e agressiva, baseada em slogans e ideias que são irrealizáveis num país culto e maduro como a Argentina, como a liberalização de armas ou a venda de órgãos. E onde até cavalos de guerra como a dolarização ou o encerramento do Banco Central estão gradualmente a desaparecer. Uma metamorfose desejada pelo empresariado do país, onde é forte a presença de grandes empresas italianas.
As empresas - preocupadas com a grave situação econômica com uma inflação superior a 140% e um aumento perigoso da pobreza - esperam que Milei tenha sucesso no difícil desafio de reduzir o déficit orçamental para alcançar o equilíbrio econômico nos próximos 12 meses. E esperam também um apoio internacional, que acompanhe e ajude o novo governo a ultrapassar o difícil cenário de 2024, a começar por uma presença importante já na cerimônia de 10 de dezembro, que dará um sinal concreto.
É também por isso que a ministra designada das Relações Exteriores, a economista Diana Mondino, nas colunas do Clarín, faz questão de ressaltar que a política externa do novo executivo argentino será "aberta" e "transparente".
Não fechará com parceiros comerciais importantes como o Brasil e a China, mas olhará em particular para países "que partilham os mesmos valores", como os Estados Unidos, a Europa, a União Europeia, Israel e alguns países de Commonwealth".
"Trabalharemos com todos os países. Seremos uma democracia liberal e buscaremos a maior transparência possível", afirma a futura chefe da diplomacia argentina. "É muito provável que o Brasil e a China continuem a ser grandes parceiros comerciais. E nós, como Liberdade Avança, nunca atacamos ou pensamos em modificar de forma alguma essas relações".
Quanto à adesão aos Brics, após o convite recebido nos últimos meses da cúpula da África do Sul, Mondino prefere ignorá-lo por enquanto (embora durante a campanha eleitoral de Milei já tinha anunciado que não queria aderir), enquanto entre os dossiês que devem ser assinados com urgência, o acordo comercial UE-Mercosul é apontado como prioridade absoluta.
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