(ANSA) - O Parlamento Europeu deve realizar um debate na tarde da próxima segunda-feira (5) sobre o caso da professora italiana Ilaria Salis, ativista antifascista presa na Hungria sob a acusação de ter agredido extremistas de direita no país.
A informação foi dada à ANSA por fontes parlamentares, antecipando a votação da ordem do dia nesta quarta-feira (31).
Na última segunda-feira (22), Salis declarou-se “não culpada” dos crimes, e as imagens da mulher entrando no tribunal de Budapeste acorrentada pelas mãos, pés e cintura chocaram a Itália e a Europa.
Também nesta quarta, veio à tona a informação de que a italiana de 39 anos, detida em 11 de fevereiro de 2023, já teve um pedido de prisão domiciliar negado em juízo em junho passado por suposto risco de fuga.
O início do julgamento foi adiado para maio, e apenas se o tribunal conceder a prisão domiciliar poderá ser avaliada a possibilidade de transferir Ilaria Salis para a Itália, aplicando uma jurisprudência do Conselho Europeu para o reconhecimento recíproco de decisões sobre medidas alternativas à prisão preventiva entre países da União Europeia.
Ainda nesta quarta, o Tribunal de Apelação de Milão recebeu uma resposta da Justiça da Hungria rechaçando as acusações de que Salis teria sido mantida em condições desumanas: “Se a pessoa for colocada sob custódia, ficará em condições consistentes com as disposições da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, e da recomendação do Conselho da Europa sobre regras prisionais”.
O advogado Eugenio Losco, que defende Ilaria Salis, disse à ANSA que avalia a possibilidade de recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos: “A violação é óbvia, dado que foi levada de coleira ao tribunal”.
Também à ANSA, o pai de Ilaria, Roberto Salis, definiu-se “moderadamente otimista” após ter encontrado a filha no cárcere em Budapeste: “Ela ainda está entusiasmada por ter visto seus amigos na segunda-feira, e há sinais de melhora de suas condições na prisão”.
Após encontrar o embaixador da Itália em Budapeste, ele afirmou: “Ele nos relatou seu encontro com o ministro húngaro da Justiça, acredito que todos estejam se movimentando na direção certa”.
Anteriormente, Roberto Salis relatou os maus-tratos que a filha teria sofrido, ficando com roupas sujas, tendo passado oito dias em uma cela de isolamento sem papel higiênico, sabonete e absorventes, e usando sua própria roupa para se secar após o banho, sem acesso a toalha.
O advogado relatou ainda que ela declarou-se não culpada porque não teve acesso aos autos e a imagens sobre as quais estaria baseado o processo.
Em entrevista ao jornal La Repubblica, Roberto Salis ainda comemorou a notícia de que a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, falou sobre o caso ao telefone com seu homólogo húngaro, Viktor Orbán.
A oposição vinha pressionando a premiê para tomar posição, acusando-a de não falar sobre o caso por ter uma boa relação o líder de extrema-direita.
“De repente alguém ouviu minha voz no deserto. Mas sou um homem de ação, até agora só vi palavras, os fatos são outra coisa. Mas o telefonema é uma ótima notícia”, disse.
Budapeste
Zoltan Kovacs, porta-voz de Viktor Orbán, escreveu no X (antigo Twitter) que Ilaria Salis sofreu “acusações graves” e garantiu que “as medidas tomadas no processo estão de acordo com a lei e são apropriadas para a gravidade do crime cometido”.
“A credibilidade de Ilaria Salis é altamente questionável, como demonstrado, entre outras coisas, pelas declarações falsas que ela fez sobre sua educação, situação familiar e relacionamentos pessoais, que se mostraram ser falsas”, acrescentou, sem detalhar.
"A mídia de esquerda e grupos de direitos humanos lançaram um ataque orquestrado contra a Hungria visando destruir as boas relações políticas entre Budapeste e Roma”, disse ainda.
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