Em vista da assembleia geral de outubro sobre a Igreja sinodal, o papa Francisco revoluciona a composição do Sínodo dos Bispos e abre decididamente o encontro para a participação dos "não bispos" como membros com todos os efeitos, dispondo ainda o direito de votos para mulheres e para laicos.
Em outras palavras, não muda a natureza, nem o nome, que continuará a ser Sínodo dos Bispos, mas muda a composição dos participantes do próximo encontro de outubro no Vaticano. Os "não bispos" serão laicos ou religiosos nomeados diretamente pelo Papa, sendo que 50% deles devem ser mulheres. Todos terão direito a voto, chegando a um número total de 370 votantes entre 400 participantes.
As novas disposições, comunicadas nesta quarta-feira (26) em um carta para os responsáveis pelas assembleias continentais, não revogam a constituição apostólica vigente Episcopalis Communio, firmada em 2018 e que já previa a participação dos "não bispos".
Mas, adiciona novidades, motivadas pelo desejo de que o sínodo venha "de baixo", e dá números precisos: serão 70 os escolhidos nessa categoria entre sacerdotes, consagrados, diáconos e laicos provenientes das Igrejas locais e representantes "do Povo de Deus". Além disso, não existirão mais os auditores.
"Não é uma revolução em si, mas uma importante mudança", disseram os cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, secretário-geral e relator-geral do Sínodo, respectivamente, em coletiva de imprensa.
"Fala-se em 21% da Assembleia que permanece como uma plenária dos bispos, com uma certa participação de não-bispos. A presença deles garante o diálogo entre a profecia do Povo de Deus e o discernimento dos pastores", acrescenta Hollerich.
Os nomeados pelo Papa virão de vários caminhos, incluindo de uma lista de 140 pessoas indicadas pelas Conferências Episcopais e da Assembleia dos Patriarcas das Igrejas Orientais Católicas (20 cada). Pede-se que a metade seja de mulheres e que os jovens sejam valorizados. Na escolha, deve-se levar em conta a cultura geral, com "prudência", mas também consciência e participação no processo sinodal.
Ainda terão direito a voto cinco religiosas e cinco religiosos eleitos por organizações de Superiores Gerais. Outra novidade é a presença de 10 votantes clérigos de Institutos de Vida Consagrada já previstos em 2018. Todas as eleições deverão ser ratificadas pelo Papa - e até que o pontífice não ratifique os processos, os nomes dos escolhidos não serão divulgados.
Falando de "ação histórica", a Conferência para a Ordenação das Mulheres (WOC) "celebra este desenvolvimento na história da Igreja para uma maior correspondência e equidade entre homens e mulheres no Sínodo".
"Uma quebra significativa no teto de vidro. O resultado de um sustentado ativismo, defesa e testemunho da campanha colaborativa 'Votos para as mulheres católicas', da qual a Conferência para a Ordenação das Mulheres teve um papel fundamental", acrescenta a organização.
A WOC lembra que, em 2018, "liderou o pedido pelo direito de voto para as mulheres no Sínodo manifestando pacificamente fora da Praça São Pedro só para ser maltratada e atacada pela polícia vaticana". "Por anos, representantes e bispos vaticanos resistiram, mudando a porta de cada Sínodo sobre o motivo que as mulheres não podiam votar. Mas a razão não dita sempre foi o sexismo. Mas, agora, não voltamos para trás", finalizou a entidade.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA