(ANSA) - O papa Francisco prestou nesta sexta-feira (22), em Marselha, uma homenagem a todos os migrantes que morreram na tentativa de atravessar o mar rumo à Europa e ressaltou que "salvar vidas no mar é um dever".
Em seu primeiro compromisso na cidade francesa, o Pontífice visitou um memorial que recorda as vítimas do oceano e alertou que o mar Mediterrâneo se transformou em um "enorme cemitério".
Para o religioso, "pessoas que correm o risco de se afogar ao ser abandonadas nas ondas devem ser resgatadas", porque "é um dever da humanidade, é um dever da civilização".
O argentino reforçou que não se deve habituar "a considerar os naufrágios como meras notícias de jornal, nem os mortos no mar como números: são nomes e apelidos, são rostos e histórias, são vidas despedaçadas e sonhos desfeitos".
Desde o início de seu pontificado, Jorge Bergoglio defende o acolhimento de migrantes e, inclusive, já visitou campos de refugiados nas ilhas de Lampedusa, Lesbos e Malta, para promover um alerta para a crise no Mediterrâneo.
Durante o seu discurso, lembrou os "irmãos e irmãs afogados no medo, juntamente com as esperanças que carregavam em seus corações".
"Diante de tal tragédia, não bastam palavras, mas ações, mais ainda, humanidade: silêncio, choro, compaixão e oração", enfatizou, convidando todos a respeitarem "um momento de silêncio em memória das vítimas".
Após a homenagem, o líder da Igreja Católica recordou as "diversas pessoas" que, fugindo dos conflitos, da pobreza e dos desastres ambientais, encontram entre as ondas do Mediterrâneo a rejeição definitiva na sua busca de um futuro melhor".
"Este mar esplêndido tornou-se um enorme cemitério, onde muitos irmãos e irmãs são privados até do direito de ter um túmulo, acabando por ser sepultada apenas a dignidade humana", denunciou.
Além disso, o Papa apontou que existe "uma encruzilhada de civilização", na qual cada um deve escolher entre a fraternidade ou a indiferença.
"Não podemos nos resignar a ver seres humanos tratados como moeda de troca, presos e torturados de forma atroz. Não podemos mais testemunhar as tragédias dos naufrágios, devido ao tráfico odioso e ao fanatismo da indiferença", alertou ele.
Francisco citou David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu morto em janeiro de 2022, para ressaltar que "precisamos continuar juntos a lutar contra os ídolos, derrubar muros, construir pontes, dar substância a um novo humanismo".
Por fim, o Santo Padre agradeceu todas as organizações que "vão ao mar para salvar os migrantes" e muitas vezes são impedidas, em "gestos de ódio disfarçados de equilíbrio".
"O céu nos abençoará, se em terra e no mar soubermos cuidar dos mais fracos, se soubermos superar a paralisia do medo e do desinteresse que nos condena à morte com luvas de veludo. Nisso, nós, representantes de diferentes religiões, somos chamados a ser um exemplo", concluiu.
Bergoglio iniciou sua visita de dois dias a Marselha nesta sexta, com um encontro de oração na Basílica de Notre-Dame de la Garde, junto da comunidade católica, e foi recebido pelo cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo da cidade.
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