O papa Francisco alertou nesta segunda-feira (18), em mensagem enviada à cúpula do G20, no Rio de Janeiro, que todos que provocam a fome a seus irmãos "cometem indiretamente um homicídio".
O texto foi lido pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, "número 2" na hierarquia da Cúria Romana, que representa Jorge Bergoglio na cúpula de líderes do G20 até a próxima terça-feira (19).
Para o Papa, "é motivo de grande preocupação que a sociedade ainda não tenha encontrado uma forma de enfrentar a trágica situação daqueles que enfrentam a fome". "A aceitação silenciosa da fome pela sociedade humana é uma injustiça escandalosa e um crime grave", denunciou.
Jorge Bergoglio também reforça que "aqueles que, através da usura e da ganância, provocam a fome e a morte dos seus irmãos e irmãs da família humana, cometem indiretamente um homicídio".
Na mensagem, o argentino destaca a necessidade de "uma visão e uma estratégia de longo prazo para combater eficazmente a desnutrição", esperando que "a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza possa ter um impacto significativo nos esforços globais para combater a fome e a pobreza".
"A Aliança poderia começar por implementar a proposta de longa data da Santa Sé, que apela ao redirecionamento de fundos atualmente atribuídos a armas e outras despesas militares para um fundo global concebido para combater a fome e promover o desenvolvimento nos países mais pobres", enfatizou o Papa.
O líder da Igreja Católica pede ao G20 que "sejam tomadas ações imediatas e decisivas para erradicar o flagelo da fome e da pobreza", lembrando que "a implementação de medidas eficazes requer um compromisso concreto dos governos, das organizações internacionais e da sociedade como um todo".
Para ele, "a centralidade da dignidade humana dada por Deus a cada indivíduo, o acesso aos bens básicos e a distribuição equitativa de recursos deve ser prioridade em todas as agendas políticas e sociais".
"Combater o desperdício alimentar é um desafio que requer uma ação coletiva. Desta forma, os recursos podem ser redirecionados para investimentos que ajudem os pobres e famintos a satisfazer as suas necessidades alimentares", advertiu.
A Santa Sé foi convidada a participar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que as prioridades do Brasil à frente do grupo apresentam consonâncias com as bandeiras do pontificado de Francisco, como a luta contra a fome a pobreza e o incentivo ao desenvolvimento sustentável.
Hoje, em seu discurso de abertura, o petista declarou oficialmente lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, cuja sede será na FAO, em Roma, e suas atividades terão início em 2025 e durarão até 2030.
Já em relação às guerras no mundo, o Papa também expressou mais uma vez a sua preocupação com "a intensificação dos conflitos, das atividades terroristas e dos atos de agressão" e apelou para que o G20 "identifique novos caminhos para alcançar uma paz estável e duradoura em todas as áreas afetadas por conflitos, com o objetivo de restaurar a dignidade das pessoas".
As guerras em curso "não são apenas responsáveis por números significativos de mortes, deslocações em massa e degradação ambiental, também contribuem para o aumento da fome e da pobreza, tanto diretamente nas áreas afetadas como indiretamente em países que se encontram a centenas ou milhares de quilômetros de distância" das zonas de conflito, especialmente através da interrupção das cadeias de abastecimento.
Por fim, disse que "as guerras continuam a exercer uma pressão considerável sobre as economias nacionais, principalmente devido à quantidade exorbitante de dinheiro gasto em armas e armamentos".
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