(ANSA) - Um estudo divulgado nesta quarta-feira (29) revelou que grandes mestres do Renascimento, como os artistas italianos Leonardo Da Vinci e Sandro Botticelli, podem ter adicionado gema de ovo às suas tintas a óleo para superar problemas como umidade, amarelamento da superfície e a formação de rachaduras durante a secagem.
Segundo os cientistas, experimentos de laboratório mostraram que as proteínas usadas como aditivos protegem as pinturas.
A descoberta, que ajudará na conservação das obras, foi publicada na revista Nature Communications por um grupo internacional de especialistas da Universidade de Pisa, do Instituto de Química de Compostos Organometálicos do CNR e a Interuniversidade Nacional Consórcio para a Ciência e Tecnologia dos Materiais (Instm) de Florença.
"Até agora, as investigações científicas sobre pinturas foram principalmente voltadas para a identificação dos materiais utilizados pelos pintores, mas isso não é suficiente para entender as motivações por trás da prática artística", declarou à ANSA Ilaria Bonaduce, professora associada do Departamento de Química da Universidade de Pisa, onde um grupo de pesquisa dedicado ao patrimônio cultural trabalha há mais de 20 anos.
Os pesquisadores adicionaram gema de ovo em tinta a óleo para analisar a prática usada por muitos pintores famosos, como Albrecht Durer, Johannes Vermeer e Rembrandt.
"No laboratório preparamos algumas tintas com adição de gema e espalhamos para estudar o seu comportamento químico e físico na tentativa de perceber as razões que motivaram esta escolha dos artistas", explicou Bonaduce.
Os resultados das análises (realizadas com técnicas de reologia, calorimetria exploratória diferencial, termogravimetria e pirólise analítica acopladas à espectrometria de massas) mostraram que as proteínas do ovo formam uma fina camada que reveste as partículas de pigmento e impede a absorção da umidade ambiente.
Além disso, a gema torna a mistura de cores mais consistente, evita a formação de pequenas rachaduras durante a secagem e, com suas substâncias antioxidantes, evita o amarelamento dos pigmentos.
"Agora continuamos trabalhando com outras técnicas analíticas para investigar a microestrutura, para depois passarmos ao estudo de pinturas famosas", acrescenta Bonaduce.
De acordo com a especialista italiana, "amostras da 'Lamentação sobre o Cristo Morto com os Santos Jerônimo, Paulo e Pedro', de Sandro Botticelli, preservada em Munique, já estão disponíveis, mas também trabalharemos em outras obras de Ticiano e Ghirlandaio".
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA