Após um mês das eleições presidenciais de 28 de julho, que terminaram com a contestada vitória de Nicolás Maduro, venezuelanos que vivem no Brasil manifestam preocupação com a segurança de seus familiares, sobretudo por conta da violenta repressão a protestos da oposição, que reivindica o triunfo de Edmundo González Urrutia.
O Comitê Nacional Eleitoral (CNE), órgão ligado ao governo chavista, declarou Maduro vencedor com pouco mais de 51% dos votos, resultado referendado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), porém Caracas vem ignorando apelos da comunidade internacional, inclusive do Brasil, para divulgar as atas de votação.
A crise desencadeou uma onda de revolta na Venezuela, onde quase 30 pessoas morreram e milhares foram presas em manifestações contra o governo.
"Fiquei preocupado e tive medo que algo pudesse acontecer com meus familiares", disse o venezuelano Johan Pacheco, que está no Brasil desde 2020, em entrevista à ANSA. "Mas eles não chegaram a sofrer nada. Sempre busquei manter contato, e eles me diziam que estava tudo sob controle", acrescentou.
Pacheco, que vive em São Paulo, revelou que o medo de represálias fez seus parentes pararem de publicar conteúdos contra Maduro nas redes sociais, principalmente depois de o presidente ter dito que o país poderia enfrentar um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso ele não fosse reeleito.
A mesma preocupação foi compartilhada por outros dois venezuelanos no Brasil, mas que optaram por não ter seus nomes revelados por temor de eventuais repressões. "Eu sinto preocupação com meus familiares desde o dia das eleições, mas ninguém sofreu nada. No entanto, eles pararam de sair de casa e evitam postar ou emitir suas opiniões contra o governo", disse uma delas, que vive hoje na Amazônia brasileira.
Em meio à crise no país vizinho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros líderes da América Latina, como o da Colômbia, Gustavo Petro, tentam alcançar uma solução negociada, esforços elogiados pelos Estados Unidos, mas vistos com reservas por venezuelanos no Brasil.
"É conveniente para o governo [brasileiro] ter cuidado para manter as relações abertas com a Venezuela, e sei que Lula não concorda com a situação, mas acho que a postura deveria ser mais firme", afirmou Pacheco.
Outro venezuelano residente em São Paulo definiu a proximidade entre Lula e Maduro como "chata", mas elogiou o petista por se distanciar recentemente do líder chavista e cobrar a apresentação das atas eleitorais.
Ainda assim, as esperanças de normalização são escassas. "Vai demorar bastante para a Venezuela seguir um caminho diferente", lamentou a venezuelana que vive na Amazônia.
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