A Argentina chega polarizada ao momento da verdade, com o segundo turno das eleições presidenciais em um clima de tensão e incerteza como nunca se viu em 40 anos de democracia, prometendo uma batalha até o último voto.
Uma divisão que atravessa todo o país, das praças aos locais sagrados da cultura, como o Teatro Colón - um dos palcos mais apreciados do mundo -, onde o público entoou canções e assobios de protesto contra Javier Milei, mas também gritou coros de estádio em apoio ao candidato ultraliberal, que enfrenta o postulante do peronismo de centro-esquerda Sergio Massa, atual ministro da Economia.
Entre cânticos de "Nunca mais", slogan emblemático que dá nome ao relatório sobre os crimes contra a humanidade cometidos pelo regime militar - e "Milei, lixo, você é a ditadura", em um estrondo de aplausos, gritos, assobios e alguém que, do fosso dos músicos, tocou um trecho da marcha peronista, o espaço do Colón se transformou na representação plástica da crise no país.
Seguindo um roteiro já visto no Brasil com o ex-presidente Jair Bolsonaro, as patrulhas de extrema direita de Milei também conseguiram incutir dúvidas sobre supostas fraudes. Não é um fato negligenciável que, no dia anterior à abertura das urnas, a Câmara Eleitoral argentina tenha convocado os delegados das forças políticas adversárias para "preservar a coexistência democrática".
Além disso, o secretário do órgão, Sebastian Schimmel, tentou tranquilizar os 35 milhões de eleitores explicando que as acusações de uma "fraude colossal" com o envolvimento da gendarmaria no primeiro turno de 22 de outubro são "infundadas" e "desprovidas de argumentos", uma narrativa que pretende apenas "criar um clima de desconfiança".
Mas o desânimo, segundo as vozes na rua, surge também da necessidade de escolher entre o expoente de um governo que levou o país à "ruína económica" e um amador na política, que fala com o cão morto e finge ser uma estrela do rock. "Mais uma piada do que uma dúvida hamletiana", resume o gerente de uma banca de jornal do Microcentro, região esvaziada pela crise financeira e pela pandemia.
Massa, que em diversas ocasiões reivindicou suas raízes italianas como um valor, piscando para os milhões que aqui são descendentes como ele, ganhou o apoio de Elly Schlein, secretária do Partido Democrático da Itália.
Em um vídeo, ela definiu a votação deste domingo como "fundamental para o futuro da Argentina". Como Schlein, nos últimos dias, os presidentes progressistas de Brasil, México e Colômbia se manifestaram em prol do peronista, assim como o chefe de governo da Espanha, Pedro Sánchez.
Por sua vez, Eduardo Bolsonaro, expoente na América Latina da rede de desinformação fundada por Steve Bannon, rei da campanha de Donald Trump, reiterou o apoio a Milei: "Argentinos, não deixem que seu país seja a próxima Venezuela. Está em suas mãos". (ANSA)
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