A Aliança Global para a luta contra a fome, a pobreza e a desigualdade voou para a reunião do G20 no Rio de Janeiro, mas a questão agora está em outro cavalo de batalha da presidência brasileira: a tributação dos super-ricos.
Um dossiê sobre a mesa dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais, quinta e sexta-feira, com Giancarlo Giorgetti, Fabio Panetta e o comissário Paolo Gentiloni.
Os documentos que constituem os fundamentos do pacto do combate à fome foram aprovados por aclamação, entre aplausos, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que brindou: "é um passo decisivo" que traz o dossiê "de volta ao centro da agenda internacional".
A organização, que contou com o apoio do presidente da Itália, Sergio Mattarella, em sua recente viagem ao Brasil, terá uma "estrutura pequena e eficiente, composta por um pessoal especializado" e também falará italiano, já que "será gerida por um secretariado sediado na FAO em Roma, bem como em Brasília".
A missão da nova Aliança é reunir doadores, programas e beneficiários segundo uma lógica de eficiência, corrigindo dispersões e fragmentações, abrindo novas oportunidades para as 733 milhões de pessoas que sofreram de fome em 2023: uma em cada 11 pessoas no mundo e uma a cada cinco na África, de acordo com o último Relatório de Segurança das Nações Unidas.
Esse relatório da ONU alerta para o risco de falhar o segundo objetivo do desenvolvimento sustentável, o relativo à 'Fome Zero' até 2030, porque "o mundo retrocedeu 15 anos", com níveis de desnutrição comparáveis aos de 2008-2009, tendo o fosso das desigualdades aumentado ainda mais.
"A riqueza dos bilionários passou de 4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas três décadas. Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros, enquanto outros possuem programas espaciais próprios e pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora", destacou Lula, apelando à comunidade internacional para corrigir a "anomalia", com padrões de "impostos mínimos globais".
"Os super-ricos que não querem ser tributados na Itália vão para o Principado de Mônaco, e talvez não paguem impostos lá. Precisamos chegar a um acordo em todo o mundo para que isso não aconteça", disse o ministro Giorgetti nos últimos dias. Contudo, o caminho da iniciativa, apesar de contar com o apoio de vários países europeus, parece ser difícil.
A proposta de um imposto global sobre 2% dos ativos de três mil bilionários em todo o mundo que, segundo as projeções do economista Gabriel Zuckman, poderá levar a uma arrecadação anual entre US$ 200 e 250 bilhões (cerca de cinco vezes o montante que os 10 maiores bancos multilaterais dedicaram ao combate à fome e à pobreza em 2022), tal como está, não parece ter muitas chances de sucesso, observam fontes alemãs.
Os Estados Unidos optaram por não participar. "Somos contra um imposto global sobre os bilionários", diz uma nota da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, em maio passado.
E é altamente improvável que a reunião bilateral do dia anterior, com o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, tenha conseguido movimentar muito as coisas. (ANSA)
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