Os advogados do Movimento 5 Estrelas (M5S) entraram com recurso contra a decisão de um tribunal de Nápoles de suspender o novo estatuto do partido e a eleição de Giuseppe Conte como presidente da sigla.
A informação foi confirmada neste sábado (12) por fontes partidárias, que ressaltaram que o pedido entrou na Justiça um dia antes.
A justiça napolitana deu a sentença contra as votações internas de agosto de 2021 após três membros do M5S recorrerem ao tribunal por conta de problemas nos registros.
Até julho daquele ano, a sigla usava a plataforma Rousseau para fazer suas votações. No entanto, o "dono" do sistema, Davide Casaleggio, e o cofundador do partido, Beppe Grillo, tiveram uma briga judicial sobre a plataforma e na eleição foi usado um novo sistema, chamado de Sky Vote.
Só que muitos não conseguiram votar na nova plataforma por conta de problemas nos registros - e os três ativistas ainda reforçaram que o próprio Grillo havia publicado um texto em que dizia que a votação deveria ser no Rousseau porque isso constava no estatuto antigo. Com o imbróglio interno, a Justiça determinou a suspensão dos pleitos.
No entanto, esse é só mais um problema que atingiu o interior do M5S desde a semana que culminou com a eleição de Sergio Mattarella para mais um mandato à frente da Presidência. Um "racha" entre Conte e o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, também ficou evidente e Grillo vem fazendo uma série de reuniões para apaziguar os problemas.
Neste sábado, para também tentar dar uma posição de normalidade interna, o presidente da Câmara, Roberto Fico, afirmou que os problemas reais são apenas "burocráticos".
"A situação é muito mais simples do que aquela que vocês descrevem. A questão é absolutamente burocrática, não política. Vamos dar os passos já anunciados e esperamos que tenham uma boa resolução. Conte é o líder do M5S, não há questões políticas nisso", disse o deputado em um evento partidário.
Crise no M5S
O M5S surgiu com grande força no cenário político italiano ao quebrar a hegemonia da alternância de poder entre esquerda e direita em março de 2018.
Com menos de 10 anos de existência, a sigla obteve 32% dos votos e tornou-se a primeira legenda antissistema a vencer uma disputa nas urnas.
Três meses após a vitória, o M5S formou uma coalizão de governo com a Liga, de Matteo Salvini, mas a aliança fez com que muitos eleitores progressistas se afastassem do M5S.
Em 2019, o governo com os ultranacionalistas foi rompido por Salvini para tentar forçar eleições antecipadas, mas a sigla de Grillo fez uma mudança inesperada e se uniu ao seu maior rival até então: o centro-esquerda Partido Democrático. Com a nova coalizão, foi a vez daqueles que se aproximaram do M5S pelos discursos eurocéticos se afastarem.
Além disso, com a queda de Conte do cargo de premiê, em 2021, a sigla apoiou e faz parte da grande coalizão - que vai da centro-esquerda à extrema-direita - que sustenta Mario Draghi, um verdadeiro símbolo do establishment europeu.
Apesar de ainda ter a maior bancada parlamentar, o M5S aparece apenas como quarta força entre os partidos italianos, atrás da legenda de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), PD e Liga, com menos de 20% das intenções de votos.
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