O governo do premiê da Itália, Mario Draghi, ficou à beira de uma crise política após o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) ter boicotado a votação de um pacote de ajudas para combater a inflação no país.
O texto foi aprovado na Câmara dos Deputados nesta segunda-feira (11) por 266 votos a favor e 47 contra, porém os parlamentares do M5S não participaram do escrutínio final, orientados pela liderança da legenda, que é presidida pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte.
Draghi chefia um governo de união nacional com partidos que vão da esquerda à extrema direita e tem como objetivo guiar o país até as eleições do primeiro semestre do ano que vem. No entanto, divergências com o M5S colocaram em risco a continuidade da atual aliança.
"Pedimos que o premiê Mario Draghi deixe essa lógica da chantagem e tome ato da situação que se criou, por isso pedimos uma verificação da maioria para compreender quais forças políticas querem apoiar o governo", disse o ex-premiê Silvio Berlusconi, presidente do partido conservador Força Itália (FI).
Após a votação do decreto, Draghi se dirigiu ao Palácio do Quirinale para uma reunião com o presidente Sergio Mattarella, mas ainda não se sabe o teor da conversa.
O M5S teve a maior bancada na Câmara durante a maior parte da atual legislatura, porém uma série de deserções fez o movimento perder esse posto para a legenda de ultradireita Liga, de Matteo Salvini. Já no Senado, os dois partidos estão praticamente empatados.
"É claro que, mesmo sem o movimento [5 Estrelas], é possível seguir adiante, mas é preciso ver se há vontade e os números", disse o ex-premiê Matteo Renzi, do partido de centro Itália Viva (IV).
"Conte é um palhaço em fim de carreira, daqueles que não fazem mais ninguém rir. O M5S precisa decidir o que quer, mas que pare de brincar com os cidadãos", reforçou.
Vai e volta
O M5S já havia ameaçado abandonar o governo, mas uma reunião entre Draghi e Conte em 6 de julho aparentemente tinha colocado panos quentes na crise.
Na ocasião, o ex-premiê disse que estava disposto a seguir apoiando o Executivo, desde que houvesse um "claro sinal de descontinuidade". No entanto, Conte havia dito que daria "tempo" para Draghi avaliar as exigências do M5S.
O partido cobra mais auxílios financeiros para famílias e empresas, a redução da carga tributária e a aprovação do salário mínimo, além da manutenção da renda de cidadania, principal programa social da Itália e que é alvo de críticas em outros partidos da base aliada.
O M5S também questiona algumas medidas tomadas pelo governo, como o envio de armas à Ucrânia, mas ainda precisa lidar com cisões internas.
A última delas ocorreu em 21 de junho, quando o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, figura histórica do movimento, anunciou sua saída do partido por discordar da linha de Conte sobre a ajuda militar a Kiev.
O chanceler levou com ele mais de 50 deputados e 10 senadores, reduzindo o poder de barganha do movimento, que chegou a ser o partido mais popular da Itália em 2018, mas hoje amarga o quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 10% das intenção de voto.
Reação
Nesta tarde, Berlusconi, presidente do partido conservador Força Itália (FI), convocou uma cúpula urgente com membros da legenda em Arcore para debater a situação no governo.
Segundo apuração, o coordenador nacional do FI, Antonio Tajani, e os líderes do grupo Annamaria Bernini e Paolo Barelli já chegaram no local.
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