A quatro dias da ida do primeiro ministro da Itália, Mario Draghi, ao Parlamento para fazer consultas em busca de maioria, os partidos políticos que formam a base do governo retomaram as negociações sobre a crise.
Entre as hipóteses debatidas neste sábado (16) especialmente entre os membros do Movimento 5 Estrelas (M5S), responsável pela crise atual devido ao seu boicote a uma votação no Senado, está a renúncia dos ministros do governo e uma possível eleição antecipada no dia 25 de setembro.
"O presidente [do M5S, Giuseppe] Conte nunca pediu que os ministros renunciassem, se ele pedisse, renunciaríamos instantaneamente", disse o ministro da Agricultura, Stefano Patuanelli, do M5S, explicando que a renúncia levaria a uma ruptura no governo e consequentemente a novas eleições antecipadas.
O partido antissistema da Itália, no entanto, continua a considerar a possibilidade de realizar uma consulta online sobre um possível novo voto de confiança em Draghi, caso ele aceite se apresentar ao Parlamento.
Segundo fontes parlamentares, esta hipótese é debatida no Conselho Nacional do M5S, realizado hoje, e prevê uma "provável" consulta online na plataforma da sigla.
Paralelamente, o secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, fez um apelo "às forças políticas que apoiaram o caminho do governo Draghi com grandes resultados positivos para que esse caminho não pare".
O líder da centro-esquerda italiana enfatizou que espera que isso seja alcançado "a partir de quarta-feira com um novo voto de confiança que estabelece um importante caminho de nove meses para concluir todas as reformas". "Estou certo de que existem condições para continuá-lo".
"No país não há desejo nem pressão para uma crise que conduza a uma confusão e às eleições de 25 de setembro", acrescentou Letta, pedindo para "todas as forças políticas e ao M5S para estarem no jogo na quarta".
Já o partido ultranacionalista Liga rebateu: "Letta de repente acorda e entende que os italianos precisam de um governo forte e operativo em contas, impostos e trabalho. Ele que até a semana passada fez de tudo para dividir a maioria e bloquear o Parlamento [...]. Ele que, por suas bandeiras, se aliou aos M5S que todos sabem que são incapazes de governar", disseram os líderes do grupo na Câmara e no Senado, Riccardo Molinari e Massimiliano Romeo, em nota.
"Poupe-nos pelo menos de seus apelos que não são de todo críveis. Bela coragem de ser tão oportunista e transformador", acrescentaram os membros do partido do ex-ministro do Interior Matteo Salvini.
Para o partido conservador Força Itália (FI), o M5S deve estar fora do governo, porque "provocar uma crise de governo em um momento tão complicado nacional e internacionalmente é uma verdadeira irresponsabilidade".
"Qualquer coisa negativa que aconteça e vai acontecer é responsabilidade exclusiva do Movimento 5 Estrelas. Temos ideias muito claras, não podemos continuar governando com eles. Nossa presença é uma alternativa à deles. Se não houver outro governo Draghi sem o M5S, votaremos novamente", enfatizou Antonio Tajani, coordenador nacional do FI.
Com relação ao partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), única grande legenda de oposição a Draghi, a líder Giorgia Meloni afirmou que não está pedindo "eleições apenas agora, por pesquisas favoráveis: já dizemos isso há algum tempo, quando havia outros números".
"Sem uma maioria coesa para apoiar o governo, só chegam compromissos baixos e desperdício de recursos. Sem reformas. Três governos diferentes e podemos ver os resultados", concluiu ela.
O líder da Itália Viva, Matteo Renzi, está entretanto "a trabalhar dia e noite para construir o Draghi Bis". Para o ex-premiê há espaço para recomposição, mas "a jogada agora é do primeiro-ministro. Restaurar a centralidade daquele desastre natural que responde ao nome de Movimento Cinco Estrelas foi um erro político cometido por muitos, a começar pelo Partido Democrático" .
Eles "são um desastre contínuo e os danos que causaram a este país vão continuar por toda uma geração. No entanto, a bola está agora nas mãos de Draghi. Espero que concorde em relançar a sua liderança pelo menos até 2023", declarou Renzi.
Para Carlo Calenda, líder do partido de cetro Ação, é "muito difícil conciliar a situação. Conte e o M5S deram as costas ao italiano que toda a comunidade política e financeira internacional aprecia".
De acordo com Calenda, "Draghi também se incomodou com a atitude do centro-direita que, um minuto depois de sua renúncia, começou a gritar para votar, para votar".
"A única maneira de manter Mario Draghi no Palazzo Chigi é que os líderes dos partidos mais responsáveis lhe assegurem um apoio leal a uma agenda de reformas muito precisa", explicou.
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