A deputada de extrema direita Giorgia Meloni, líder nas pesquisas para as eleições parlamentares de 25 de setembro, publicou em suas redes sociais o vídeo de um estupro ocorrido em plena rua na cidade de Piacenza, norte da Itália.
O crime foi praticado por um solicitante de refúgio de 27 anos e natural da Guiné contra uma mulher ucraniana de 55. Um morador da região filmou o abuso com seu celular enquanto a polícia não chegava, mas o vídeo foi parar na internet.
Meloni, que costuma usar crimes de estrangeiros para defender o fechamento das fronteiras italianas para migrantes e refugiados resgatados no Mediterrâneo, republicou a gravação para seus mais de 4,5 milhões de seguidores no Twitter, no Facebook e no Instagram.
"O vídeo de um estupro postado por Giorgia Meloni é indecente e indecoroso", escreveu no Twitter o ex-premiê e secretário do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, principal adversário da deputada nas eleições.
Já a prefeita de Piacenza, Katia Tarasconi, também do PD, disse à ANSA que a vítima foi violentada "duas vezes". "Se me coloco no lugar dessa mulher, acredito que ela não queira entrar na internet e ver o que aconteceu. Quem publicou o vídeo teria feito o mesmo se a vítima fosse sua irmã ou sua mãe?", acrescentou.
O ex-ministro Carlo Calenda, líder da chamada "terceira via", fez coro às críticas e afirmou que exibir um estupro "para fins de campanha eleitoral é um ato imoral e desrespeitoso, principalmente com a vítima, que certamente não gostaria de ser exposta nas redes sociais dessa maneira".
O vídeo mostra o estuprador e a vítima com a imagem borrada, mas é possível ouvir claramente os gritos e as lamentações da mulher. Em mensagem nas redes sociais, Meloni tentou se justificar afirmando que o ataque à dignidade é o estupro, e não sua condenação.
Além disso, apontou que a criminalidade está "fora de controle graças a políticas surreais de imigração" - dados divulgados pelo próprio governo italiano indicam que a maioria esmagadora dos casos de violência contra a mulher são cometidos no âmbito familiar e por homens próximos.
"A esquerda se revolta porque, segundo ela, a publicação [do vídeo] é um ataque à dignidade da vítima, mas não gasta uma palavra com essa senhora ucraniana estuprada", acrescentou a deputada, sem revelar se teve o consenso da mulher para divulgar as imagens.
O ultraconservador Irmãos da Itália (FdI), partido de Meloni, está em empate técnico com o PD, de centro-esquerda, na liderança das pesquisas, mas sua coalizão com a Liga, de Matteo Salvini, e o Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, é favorita para obter maioria no Parlamento.
O FdI foi fundado há 10 anos e é herdeiro político do extinto partido pós-fascista Movimento Social Italiano (MSI), que havia sido criado por aliados do ditador Benito Mussolini após a Segunda Guerra Mundial.
Investigação -
As autoridades italianas abriram uma investigação para apurar os responsáveis pela divulgação do vídeo de um estupro ocorrido em Piacenza, norte da Itália.
"Em referência à divulgação do vídeo referente ao episódio de violência sexual em Piacenza, o Fiador de proteção de dados pessoais iniciou uma investigação para apurar qualquer responsabilidade por parte dos sujeitos que, a vários títulos e para diferentes finalidades, têm procedido e adverte todos os responsáveis pelo tratamento de dados para que verifiquem a existência de bases legais adequadas que legitimem tal divulgação”, diz o Garantidor de Privacidade em nota, ressaltando que se reserva “ao direito de adotar quaisquer medidas da sua competência”. (ANSA)
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