Um relatório divulgado pela Fundação Migrantes da Conferência Episcopal Italiana (CEI) apontou que o mundo atingiu os 103 milhões de refugiados, cerca de um habitante a cada 77. A cifra é mais do dobro do registrado há 10 anos (um habitante em 167).
O documento anual "Direito de Asilo" destaca a solidariedade da União Europeia (UE) ao receber os ucranianos que fogem da guerra, mas lembrou que este foi o ano "que mais rejeitou" o resto das pessoas que fogem da África ou dos conflitos no Oriente Médio.
"Em 2022, a Europa demonstrou que pode acolher mais de 4,4 milhões de refugiados ucranianos que obtiveram proteção temporária, sem perder nada em termos de segurança e bem-estar.
Mas fez todo o possível para manter algumas dezenas de milhares de pessoas que necessitam de proteção de outras rotas e de outros países fora das suas fronteiras", diz o texto.
De acordo com os dados da CEI, 171.500 refugiados ucranianos chegaram à Itália desde o início da guerra - eles superam em mais de 50% os cerca de 103.160 refugiados e requerentes de asilo de todos os outros países que no final de outubro estavam sendo acolhidos pelo sistema público italiano.
Além disso, o relatório destaca que as informações do final de outubro de 2022 apontam que a estimativa mínima de migrantes mortos e desaparecidos no Mar Mediterrâneo era de 1,8 mil e que "mais uma vez o maior número de vítimas é pago por quem tenta atravessar o Mediterrâneo central, na rota que leva à Itália e Malta, onde se houve 1.295 mortos e desaparecimentos, com 57% mais mortes em relação a 2021".
Segundo o texto, houve um "aumento impressionante de mortes e desaparecimentos na perigosa rota do Atlântico ocidental para as Canárias: de um número estimado de 877 vítimas em 2020 para 1.126 em 2021, mais 28%".
A Fundação Migrantes reforça ainda que atualmente "não há invasão de imigrantes na Itália" e a "população refugiada está abaixo da média europeia". Antes do início da guerra, até o final de 2021, os refugiados no território italiano eram 145 mil, enquanto a Alemanha registrava 1.256.000, enquanto a França abrigava 500 mil.
O documento revela que a Itália recebeu 170 mil cidadãos ucranianos no final de setembro de 2022 e alerta a necessidade de qualificar "o fato de que as pessoas que desembarcam em nossas costas, ao contrário de muitas outras que pedem proteção na Europa continental, devem primeiro ser salvas de um mar perigoso com missões de resgate"."A Itália deve ser ajudada nisto", aponta.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, por sua vez, ressalta que "precisamos passar do debate sobre a redistribuição dos migrantes para o da defesa comum das fronteiras externas da União Europeia".
"Precisamos de um quadro de colaboração com base legal e uma ação incisiva para prevenir e combater as irregulares, travando as saídas e trabalhando para uma gestão europeia dos repatriamentos".
Para o presidente da CEI, cardeal Matteo Zuppi, o relatório sobre o "Direito de Asilo" "nos ajuda a compreender as reais proporções e devemos sempre dizer que nunca se trata apenas de números, há sempre muito sofrimento por trás disso".
"Há números que não podem deixar de nos preocupar, escandalizar-nos como os 1,8 mil mortos no Mediterrâneo, 1.295 na rota entre Itália e Malta, penso que são provas a que nunca nos podemos habituar", lembrou o religioso durante apresentação do relatório.
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