(ANSA) - O último carcereiro do ditador Benito Mussolini (1883-1945), Ferdinando Tascini, afirmou que a Constituição italiana deve ser sempre protegida e fez um apelo de respeito à Carta aos mais jovens.
"Sempre fiquem de olho na Constituição. Ali tem tudo. Depois dos trágicos momentos da guerra, ela sempre foi e sempre será para mim e para minha família a bússola da vida que nos guia e que nos deixa orgulhosos", disse o idoso de 100 anos durante um evento em Città di Castello, na região da Úmbria.
Nascido em Todi, Tascini escolheu a sua atual cidade para morar nas últimas décadas e é sempre festejado pela população local.
O italiano e seus colegas foram enviados para "uma missão especial e secreta" por seus superiores, sem saber o que aconteceria e que Mussolini havia sido preso poucos momentos antes pelos carabineiros.
"Em Campo Imperatore, eu era o funcionário do telefone e recebia as notícias da base do teleférico. Então, chegou um carro escuro de onde saiu Benito Mussolini e sua equipe e entendemos o que estávamos ali para fazer. A ordem é que se ele tentasse fugir, nós deveríamos atirar", contou falando sobre o hotel convertido em prisão que deteve o ditador entre agosto e setembro de 1943.
Em setembro, porém, os alemães inconformados com o armistício assinado pelo governo italiano com os Estados Unidos, fizeram uma missão para libertar Mussolini do hotel em que estava preso.
Tascini afirmou que via Mussolini "abatido, destruído, quieto e alguém que falava pouquíssimo" e que lembra "muito bem" do dia que os alemães chegaram no local com planadores.
"Eram 14h30 e não estava no meu turno, estava no meu quarto e, em determinado momento, houve gritos de que os alemães tinham chegado. Olhei para fora e vi um planador. Tinha um oficial com uma metralhadora pesada voltada para a minha janela. Naquele momento fiquei parado e esperava ordens, se precisava pegar em armas", relatou.
"Depois ordenaram para descer desarmados e nos render, vi todos ali. Os alemães já tinham circundado o hotel, fecharam o cerco e tentaram desarmar um oficial, mas foram barrados pelo tenente Faiola. Quando os planadores pousaram, Mussolini tentou ver quem era e queria saber se eram norte-americanos ou alemães.
A sensação era de que ele esperava mais os norte-americanos do que os alemães", relatou.
O italiano ainda falou que voltou ao local em 2019 com sua filha e parte da família. "Peguei o lenço rapidamente porque tinha vontade de chorar, estava emocionado. Não parecia que estava ali, não reconhecia mais nada, mas era uma sensação extraordinária e agradeço quem me levou até lá. Foi algo muito bonito", contou.
O prefeito de Città di Castello, Luca Secondi, também presente na cerimônia disse que o ex-agente penitenciário é "um exemplo e uma testemunha concreta dos fatos importantes da história que marcaram o país e que ainda os conta com uma lucidez extraordinária". "Ele é um exemplo de vida para todos nós e orgulho da nossa comunidade", pontuou ainda.
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