O papa emérito Bento XVI corrigiu uma informação nesta segunda-feira (24) que havia sido divulgada sobre o relatório que apontou ao menos 497 vítimas de abusos sexuais nas arquidioceses alemãs de Munique e Freising.
Segundo a agência católica KNA, Joseph Ratzinger reconheceu que estava em uma reunião em 15 de janeiro de 1980 que discutiu o caso do padre Peter Hullerman, que havia sido retirado de Essen e enviado para Munique para tratamento psiquiátrico após abusar de um menino de 11 anos.
O secretário pessoal do papa emérito, Georg Gaenswein, explica que o ato "não foi cometido por má-fé", mas foi "o resultado de um erro na elaboração editorial de sua afirmação". "Ele está muito triste [pelo erro] e pede desculpas", diz ainda o seu representante à agência.
Todavia, Bento XVI disse que naquele encontro "nenhuma decisão sobre o cargo pastoral do sacerdote em questão foi tomada" e que os debates focaram "em permitir uma organização sistemática para o homem durante o tratamento terapêutico em Munique".
Ainda conforme a KNA, o texto com o reconhecimento do erro foi enviado para o escritório de direito Westpfahl Spilker Wastl, que fez a investigação a pedido da própria Igreja Católica.
Gaenswein relatou também que, desde a última quinta-feira (20), quando os resultados foram tornados públicos, o "papa emérito Bento XVI pediu e recebeu no mesmo dia o relatório em pdf [...] e atualmente está lendo com atenção as declarações contidas, que o enchem de vergonha e dor pelos sofrimentos das vítimas".
"Mesmo que ele esteja lendo rapidamente, pede a vossa compreensão por conta de sua idade e saúde, mas também pelas grandes dimensões do documento, que demorará um tempo para ler", disse ainda o porta-voz.
Documento
O relatório produzido pelo escritório de advocacia analisou o período entre 1945 e 2019 e diz que a maior parte das vítimas é do sexo masculino. O documento aponta que 60% das vítimas tinham entre oito e 14 anos na época dos abusos sexuais e que há ao menos 235 agressores, dos quais 173 são padres.
Entre os anos de 1977 e 1982, a Arquidiocese de Munique foi chefiada por Ratzinger e o relatório aponta que o então arcebispo não tomou atitudes contra quatro prelados acusados de crimes sexuais.
O caso mais notório foi do padre Hullerman, que manteve suas funções pastorais mesmo com as denúncias e com a admissão de culpa sobre o crime. A denúncia não foi reportada pela Igreja Católica à Justiça da Alemanha.
Em 1986, com Ratzinger já no Vaticano, o sacerdote foi condenado por abusar do menino de 11 anos e de outros crimes contra crianças, mas teve a pena suspensa - tornando-se um símbolo negativo de como a igreja alemã tratava esse tipo de caso.
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