Durante a conversa por videoconferência realizada nesta quarta-feira (16) entre o papa Francisco e o primaz da Igreja Ortodoxa da Rússia, Cirilo, o líder católico condenou qualquer tipo de guerra, informou a sala de imprensa da Santa Sé.
"As guerras são sempre injustas porque quem paga é sempre o povo de Deus. Os nossos corações não conseguem não chorar perante as crianças, as mulheres mortas, a todas as vítimas da guerra. A guerra nunca é o caminho. O Espírito que nos une nos pede que, como pastores, ajudemos os povos que sofrem pela guerra", disse Francisco.
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o diretor da sala de imprensa, Matteo Bruni, informou que participaram também da conversa o presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, e o chefe do Departamento de Relações Externas do Patriarcado de Moscou, metropolita Hilarion de Volokolamsk.
"A conversa teve em seu centro a guerra na Ucrânia e o papel dos cristãos e de seus pastores para fazer de tudo que a paz prevaleça", destacou ainda Bruni. Conforme o representante, Jorge Mario Bergoglio agradeceu ao patriarca por esse encontro "motivado pela vontade de indicar, como pastores de seus povos, uma estrada pela paz, para rezar pelo dom da paz e para um cessar-fogo".
"A Igreja não deve usar a língua da política, mas a linguagem de Jesus. Somos pastores do mesmo povo santo que acredita em Deus, na Santíssima Trindade, na Santa Mãe de Deus. Por isso, devemos nos unir nos esforços de ajudar a paz, de ajudar quem sofre, de buscar os caminhos da paz para parar com o fogo", acrescentou Francisco.
Conforme Bruni, ambos concordaram a "excepcional importância" do processo de negociação que está em andamento porque, segundo o Papa, "quem paga a conta da guerra são as pessoas, são os soldados russos e a gente que é bombardeada e morre".
"Como pastores, nós temos o dever de estar próximos e ajudar todas as pessoas que sofrem da guerra. Há um tempo, também se falava nas nossas Igrejas de guerra santa ou guerra justa. Hoje não se pode falar isso. A consciência cristã se desenvolveu para destacar a importância da paz. E as igrejas são chamadas a contribuir para reforçar a paz e a justiça", acrescentou o líder católico.
Horas antes, a Igreja Russa divulgou seu comunicado sobre o encontro virtual e disse que "as partes destacaram a excepcional importância do processo de negociação em andamento, expressando sua esperança de que a paz justa seja alcançada o mais rápido possível. O papa Francisco e Sua Santidade, patriarca Cirilo, também discutiram várias questões atuais da cooperação bilateral".
O comunicado, porém, não usa os termos "guerra" ou "invasão" em nenhum momento - assim como determina o governo russo, que classifica o conflito na Ucrânia como uma "operação militar especial".
As falas de Francisco, que repetiram o termo "guerra" por várias vezes, vem em um momento que o próprio Cirilo é pressionado por padres e diáconos ortodoxos para que haja uma condenação da invasão na Ucrânia, iniciada com os ataques russos de 24 de fevereiro. No entanto, o líder da religião no país é extremamente alinhado com o presidente Vladimir Putin e, em nenhum momento, condenou a invasão.
Por sua vez, chegou culpar formalmente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pela eclosão do conflito em uma carta enviada para o Conselho Mundial de Igrejas (WCC). No dia 6 de março, em um sermão para os fiéis, Cirilo disse que as áreas separatistas do Donbass eram um "bastião contra o mundo do consumo excessivo e da liberdade visível" representado pelo Ocidente e pelas "paradas gays".
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