O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (28) duas delegações de indígenas do Canadá para discutir o escândalo das centenas de sepulturas sem nome encontradas em antigos internatos católicos para crianças nativas.
De acordo com a Santa Sé, o pontífice se reuniu com 10 delegados dos métis, povo indígena do centro do Canadá, e oito representantes dos inuits, esquimós que habitam regiões árticas.
"Cada encontro durou cerca de uma hora e foi caracterizado, da parte do Papa, pelo desejo de ouvir e dar espaço às dolorosas histórias trazidas pelos sobreviventes", diz um comunicado do Vaticano, acrescentando que os encontros "prosseguirão nos próximos dias".
Ao todo, 32 indígenas canadenses estão no Vaticano para se reunir com Jorge Bergoglio, encontros que estavam previstos para dezembro, mas foram adiados para março devido à disseminação da variante Ômicron do novo coronavírus no fim do ano passado.
"Ainda que o momento do reconhecimento, das desculpas e da expiação seja esperado há tempos, nunca é tarde demais para fazer a coisa certa", disse Cassidy Caron, presidente do Conselho Nacional dos Métis, após a reunião com o pontífice.
De acordo com Caron, Francisco ouviu atentamente os relatos dos indígenas, mas não ofereceu desculpas imediatas. "Esperamos que, se empenhando conosco em uma ação real, a Igreja possa finalmente iniciar o próprio caminho para uma reconciliação significativa e duradoura", acrescentou.
Na próxima quinta-feira (31), o Papa deve receber uma delegação da Assembleia das Primeiras Nações, organização de defesa dos direitos dos povos nativos do Canadá. Já no dia seguinte, haverá uma audiência coletiva na qual Francisco deve fazer um discurso para os indígenas.
"Somos gratos a esses delegados por terem caminhado conosco nessa viagem e ao papa Francisco por sua atenção ao sofrimento deles e por seu profundo empenho pela justiça social", afirmou o presidente da Conferência Episcopal Canadense, Raymond Poisson.
"Esperamos que esses encontros privados permitam ao Santo Padre enfrentar de modo significativo o trauma e a herança do sofrimento dos povos indígenas", acrescentou.
O Papa também já anunciou que visitará o Canadá - embora sem fixar uma data - para reconstruir a relação com as comunidades nativas, que foram vítimas de uma assimilação forçada à cultura dominante.
No ano passado, investigações descobriram centenas de sepulturas sem nome em antigos internatos católicos para crianças indígenas. Essas escolas do governo eram geridas pela Igreja com o objetivo de "educar" os nativos de acordo com os preceitos cristãos, mas essas crianças eram tiradas à força de suas comunidades e obrigadas a abandonar seus costumes e sua língua.
Além disso, os alunos eram alvos frequentes de abusos sexuais e físicos por parte dos professores. Os primeiros túmulos foram encontrados em maio de 2021, mas a Igreja Católica no Canadá pediu desculpas apenas em setembro, após ter visto paróquias serem queimadas em protestos de indígenas.
Estima-se que cerca de 150 mil nativos tenham passado por esses internatos até a década de 1970. (ANSA)
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