(ANSA) - O promotor de Justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, afirmou nesta terça-feira (11) que o papa Francisco deseja que "a verdade surja sem reservas" sobre o caso relativo a jovem Emanuela Orlandi, desaparecida desde 1983, quando tinha 15 anos de idade.
Em entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", ele disse que o Pontífice e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, têm "uma vontade de ferro" para esclarecer o desaparecimento da menina.
"Tanto o Santo Padre como o cardeal Parolin me concederam liberdade máxima de ação para investigar em larga escala sem condicionamentos de qualquer espécie e com o firme convite a não se calar sobre nada. E essa abordagem é o que mais importa", declarou Diddi, acrescentando que estará "sob os olhares do mundo inteiro" caso não realize "as atividades investigativas com cuidado".
O promotor revelou ainda que "alguns resultados iniciais foram alcançados" nas investigações e explicou que "em poucos meses foram feitas fiscalizações que não eram feitas há 40 anos".
Por fim, Diddi garantiu que "as investigações realizadas terão que emergir e até as hierarquias vaticanas estão plenamente cientes disso". No que diz respeito à comissão parlamentar de inquérito sobre o caso, "haverá uma colaboração frutuosa entre os dois Estados".
"Vamos fornecer as informações solicitadas por Roma com extrema franqueza em vista da colaboração mútua", garantiu o italiano, reiterando "a esperança de que um dia a verdade surja do resultado deste esforço comum".
Logo depois da publicação da entrevista, Diddi se reuniu com o irmão mais velho de Emanuela, Pietro, e a advogada da família, Laura Sgrò, no Vaticano, em um novo capítulo do mistério que já dura 40 anos.
Sgrò revelou que apresentou um memorando com alguns elementos reunidos durante investigações defensivas e garantiu que o Ministério Público está fazendo o seu trabalho. "Acho que estão em uma fase de aprofundamento deste memorando e da documentação anteriormente divulgada".
"O promotor está fazendo seu trabalho, Pietro me disse agora há pouco que ainda terá mais alguns, é certamente um momento importante depois de tantos anos, mesmo depois das palavras que lemos esta manhã em que o promotor disse que o Santo Padre deu total liberdade na investigação", disse ela, reforçando que o desejo é finalmente esclarecer o assunto.
A advogada destacou "o desejo do promotor de colaborar também com a justiça e isso é história", porque "seria a primeira vez na história italiana em que o Vaticano e a Itália, verdadeiramente em troca recíproca, poderiam colocar à disposição um do outro os elementos de que dispõem".
Por fim, Sgrò lembrou que ainda existem pessoas vivas que podem dar sua contribuição sobre o caso e que Pietro foi ouvido como uma "pessoa informada sobre os fatos".
Entenda o caso -
Emanuela Orlandi, 15, é filha de um funcionário da Santa Sé, cidadã do Vaticano, e residia dentro dos muros do menor país do mundo. Ela desapareceu em 22 de junho de 1983 enquanto voltava para casa.
Diversas hipóteses foram consideradas nas últimas décadas, desde crime comum até vingança contra seu pai ou contra o Vaticano.
O filme "A verdade está no céu" (2016), de Roberto Faenza, cogita que Orlandi tenha sido sequestrada por mafiosos e jogada em uma betoneira. Nenhuma das hipóteses, no entanto, foi confirmada pela Justiça.
Em 2019, o Vaticano chegou a abrir um inquérito para apurar se ossadas encontradas em um imóvel da Igreja Católica pertenciam à desaparecida, mas o caso foi encerrado no ano seguinte, uma vez que os restos mortais eram anteriores ao fim do século 19.
No entanto, a investigação sobre o desaparecimento em si foi arquivada em outubro de 2015, a pedido do então procurador Giuseppe Pignatone, agora presidente do Tribunal Vaticano.
Em novembro de 2022, a exibição da série "A Garota Desaparecida do Vaticano", pela Netflix, voltou a colocar holofotes no sumiço da adolescente e cartazes com o rosto de Emanuela voltaram a ser vistos nas ruas de Roma.
Já em janeiro deste ano, Diddi abriu uma nova investigação sobre o caso após uma série de pedidos apresentados por Pietro. Logo depois, no dia 23 de março, o plenário da Câmara dos Deputados da Itália aprovou por unanimidade a criação de uma Comissão Parlamentar Bicameral de Investigação sobre os casos de desaparecimento de Orlandi e Mirella Gregori.
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