A reação é comum entre brasileiros que visitam a Itália pela primeira vez e decidem provar a famosa pizza do Belpaese: "Será que vou conseguir comer tudo isso?".
Se no Brasil a pizza caiu no gosto popular como um prato para se dividir com a família ou os amigos, geralmente de noite, na Itália ela é mais consumida de forma individual, inclusive no almoço, o que pode assustar turistas brasileiros de primeira viagem.
Mas a forma de comer a pizza é apenas a última de uma série de características que diferenciam o prato amado pelos italianos daquele consumido no Brasil, onde ele sofreu algumas alterações para se adaptar ao gosto local, como ocorre com receitas de todo o mundo, em todos os países.
A pizzas da Itália e do Brasil começam a percorrer caminhos distintos logo em sua origem, quando são apenas ingredientes à espera de se tornar uma massa leve e elástica.
"A diferença básica é a farinha e o longo processo de fermentação. Quando você pega a pizza feita no Brasil, algumas massas levam até ovos, a fermentação é mais curta, a farinha é de outro tipo", afirma Gerardo Landulfo, delegado da Accademia della Cucina Italiana.
Isso se reflete diretamente na massa: se na Itália ela é fina e leve (os ingredientes são apenas farinha, água, sal e fermento), no Brasil a versão predominante é um pouco mais espessa, tanto que é bastante comum pizzarias perguntarem se o cliente prefere a massa grossa, média ou até fina.
Já a borda da pizza italiana é alta, oca e crocante; no Brasil, ela é mais baixa e frequentemente dobrada em volta de um recheio de queijo ou requeijão cremoso.
"A segunda diferença que pesa é o que se coloca em cima da pizza, o recheio", acrescenta Landulfo. De fato, a Itália preza pela tradição: poucas opções de sabores, poucos ingredientes, assim como costuma ocorrer no restante da gastronomia do Belpaese, que é marcada pela simplicidade.
Já para a pizza brasileira não há limites. Basta uma rápida olhada pelo cardápio de uma pizzaria para encontrar os recheios mais variados possíveis, desde sabores consagrados no gosto popular, como calabresa, quatro queijos e portuguesa, até opções mais exóticas, como batata frita e filé mignon.
"O brasileiro gosta de muito queijo, gosta de vários ingredientes. Tem sabores diferentes na Itália também, mas nunca com mais de dois ou três ingredientes", acrescenta o delegado da Accademia della Cucina Italiana.
Essas características repercutem diretamente na forma como o alimento é consumido. Mais leve, a pizza italiana é um prato individual para toda hora — embora o país também tenha muitos locais que vendem pizza em fatias, principalmente em estabelecimentos de comida de rua.
No Brasil, em que pese a recente popularização da tradição napolitana, ainda é muito mais comum pedir a pizza inteira, seja no restaurante, seja em casa, e depois dividi-la em fatias para compartilhá-la com amigos ou a família.
Segundo Landulfo, a pizza se tornou um prato noturno no Brasil porque as primeiras pizzarias do país costumavam abrir apenas nas noites dos fins de semana, já que era muito caro manter o forno aceso durante todo o dia.
"Foi uma questão comercial. Era melhor vender pizza de noite e no fim de semana do que não vender na hora do almoço. Mas em Nápoles, a partir das 10h já se come pizza, que também é uma comida de rua", diz. (ANSA)
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