A chegada dos imigrantes italianos à Serra Gaúcha entre os séculos 19 e 20 revolucionou a região ao introduzir uma cultura que se tornou vocação: a produção de vinhos, que, aliada ao frio da temporada de inverno, agitou a região neste mês de julho.
Entre os dias 11 e 21, a cidade de Bento Gonçalves, a 120 quilômetros de Porto Alegre, recebeu a 19ª edição da Festa Nacional do Vinho, conhecida como Fenavinho e ponto de partida para descobrir a Serra Gaúcha, que tenta se reerguer após as inundações e deslizamentos que atingiram o Rio Grande do Sul em maio.
Com uma história que remonta ao fim da década de 1960, o evento reúne vinícolas, restaurantes e comunidades do interior gaúcho, que apresentam os produtos e saberes deixados como herança pelos imigrantes italianos na região, principal polo produtor de vinhos do Brasil.
"A Fenavinho celebra o produtor, o orgulho de ser do colono que carrega um legado transmitido de geração em geração e que, 150 anos depois da chegada dos imigrantes, segue sendo a essência de Bento Gonçalves", diz a coordenadora do Comitê da 19ª Fenavinho, Patrícia Pedrotti.
Realizada anualmente desde 2019, a Fenavinho é precedida por programações especiais como o Vinho Encanado - venda de vinhos em torneiras no centro da cidade, evento cancelado neste ano devido à tragédia climática no estado - e os Jogos Coloniais - provas esportivas realizadas a partir dos costumes dos colonos, como arremesso de queijo e revezamento de salame.
Durante o evento, o visitante pôde degustar vinhos, espumantes e sucos das melhores vinícolas da região e provar a gastronomia contemporânea local, como tábuas de frios, pizzas, massas e outros pratos típicos italianos.
Neste ano, a Fenavinho contou com novo layout, e as vinícolas expositoras tiveram um espaço mais interativo, proporcionando maior conforto para o público. A área conhecida como Bodegão também foi ampliada, levando a alegria de cantorias, a diversão dos jogos e os costumes do interior para o Parque de Eventos de Bento Gonçalves.
Outra novidade é o concurso para eleger as soberanas da festa de 2025, no dia 15 de julho. Já no dia 20, foi anunciado o campeão dos Jogos Coloniais, disputa que reúne os quatro distritos da cidade: Vale dos Vinhedos, Faria Lemos, Tuiuty e São Pedro. Além dessa programação, a Fenavinho é ponto de partida para desvendar outros costumes deixados pelos imigrantes italianos no interior gaúcho, como o "talian", variante do dialeto vêneto falada no sul do Brasil.
Algumas das vinícolas e agroindústrias de descendentes de colonos disponibilizam inclusive hospedagens, como a Vinícola Peculiare e a Casa Valduga, ao mesmo tempo em que oferecem um panorama dos produtos do interior, como queijos e embutidos, biscoitos, geleias e o clássico capeletti, além dos vinhos.
Descobrir esse mundo de sabores é, também, perceber como a cultura herdada dos imigrantes segue viva, forte e presente nas comunidades, um gostinho que traz o tempero e o afeto da "mammas" nos diversos preparos da culinária típica.
"Nossa festa é uma grande oportunidade para se aproximar de uma cultura genuína, com experiências originais que fazem parte da nossa história como povo, e a Fenavinho abre as portas para esse mundo de possibilidades ser ampliado, conhecendo nosso interior, onde os saberes e hábitos legados pelos antepassados estão por todo lado", diz Patrícia.
Nessa jornada de descobertas, percorrer o interior de Bento Gonçalves também é colocar na memória as paisagens da Serra Gaúcha, onde as encostas cobertas de vinhedos - agora nus devido ao inverno -, emolduram vales repletos de belezas e histórias.
Tudo isso para ser aproveitado com uma taça de vinho nas mãos. (ANSA)
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