Críticas às guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia, ao esvaziamento da ONU, às desigualdades, ao crescimento dos gastos militares, ao descumprimento de acordos climáticos e aos bilionários deram o tom do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, nesta segunda-feira (24).
Em pronunciamento de pouco menos de 20 minutos, o petista insistiu na proposta de reforma da ONU para restituir sua "condição de foro universal", incluindo a renovação do Conselho de Segurança para acabar com o direito de veto e ampliar a representatividade de regiões como América Latina e África.
"Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século 21 com as Nações Unidas cada vez mais esvaziadas e paralisadas. Não tenho ilusões sobre a complexidade de uma reforma como essa, mas é a nossa responsabilidade. Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Guerra, para construir sobre os seus escombros uma nova governança global", disse Lula.
Segundo o presidente, é preciso ir "muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas no panorama internacional".
"2023 ostenta o triste recorde de maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram US$ 2,4 trilhões. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima, mas o que se vê é o aumento das capacidades bélicas", destacou.
Guerras - Durante o discurso, o presidente reafirmou que Ucrânia e Rússia não conseguirão "atingir todos os seus objetivos pela via militar" e ressaltou que o uso de "armamentos cada vez mais destrutivos trazem à memória os tempos mais sombrios do confronto estéril da Guerra Fria".
"Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento que Brasil e China oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades", disse.
Lula também apontou que Gaza é palco de uma "das maiores crises humanitárias da história recente", que agora "se expande perigosamente para o Líbano". "O que começou como a ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes tornou-se uma punição coletiva de todo o povo palestino. O direito de defesa se transformou no direito de vingança, que impede o acordo para a libertação de reféns e o cessar-fogo", afirmou.
Crise climática - Em vista da realização da cúpula climática COP30, em Belém, em 2025, o petista também declarou que o planeta Terra "está farto de acordos" ambientais "que não são cumpridos" e de "metas de redução de emissão de carbono negligenciadas do auxílio financeiro aos países pobres, que nunca chega".
"O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global", salientou Lula, citando chuvas torrenciais na Europa, furacões no Caribe, tufões na Ásia, as inundações no Rio Grande do Sul e a pior estiagem na Amazônia em 45 anos.
"Meu governo não terceiriza responsabilidades nem abdica de sua soberania, mas sabemos que é preciso fazer muito mais. Não transigiremos com o garimpo ilegal e com o crime organizado", prometeu o mandatário, reforçando a meta de acabar com o desmatamento na Floresta Amazônica até 2030.
"O Brasil sediará a COP30 convicto de que o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática", acrescentou.
América Latina e bilionários - O presidente também aproveitou para criticar a "injustificável" permanência de Cuba em uma lista dos Estados Unidos de países promotores do terrorismo, além de ter indicado o avanço da extrema direita no Brasil, com "investidas messiânicas e totalitárias que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento", um claro recado a Jair Bolsonaro.
"O futuro de nossa região passa por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação. Que não se intimida ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei", destacou o presidente, em referência indireta ao bloqueio da rede social X, do bilionário Elon Musk, por descumprir ordens judiciais no Brasil.
"Enquanto os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ficam para trás, as 150 maiores empresas do mundo obtiveram, juntas, lucro de US$ 1,8 trilhão nos últimos dois anos. A fortuna dos cinco principais bilionários mais que dobrou desde o início desta década, ao passo que 60% da humanidade ficou mais pobre.
Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora", afirmou.
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