Enquanto o premiê Mario Draghi se prepara para viajar aos Estados Unidos, cresce na Itália a frente "pacifista" que cobra uma solução negociada para a guerra entre Rússia e Ucrânia e começa a questionar as posições da Casa Branca e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Desde o início da invasão, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), partido com maior representatividade no governo Draghi, levanta dúvidas sobre o envio de armamentos da Itália para a Ucrânia. "Nosso país vai a reboque ou é um parceiro que pode dar uma contribuição?", questionou recentemente o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, líder do M5S.
No entanto, políticos de outras legendas da situação se juntaram ao coro nos últimos dias. "Todas as armas são perigosas e podem matar. No momento em que decidimos ajudar a resistência ucraniana, estamos decidindo fornecer instrumentos de morte. O desarmamento é a única lógica, em vez da bélica, do contrário estamos aceitando trabalhar com Putin em seu terreno", disse ao jornal La Stampa o deputado Graziano Delrio, figura influente do Partido Democrático (PD), principal força de centro-esquerda na Itália.
Além disso, o parlamentar alertou que buscar a paz tentando "dobrar Putin mostra uma grande irresponsabilidade" e pediu para os EUA evitarem uma escalada verbal.
O posicionamento de Delrio encontrou eco até no ex-ministro do Interior e senador Matteo Salvini, do partido de ultradireita Liga. "Estou de acordo com Delrio. Biden deve abaixar o tom, chega de guerra, a Itália e a Europa precisam ser mediadores e portadores de paz", escreveu Salvini, antigo aliado de Putin, em seu perfil no Twitter.
Já o deputado Federico Fornaro, líder da aliança de esquerda Livres e Iguais (LeU) na Câmara, disse que a Otan "não pode substituir a política e as instituições europeias".
Por sua vez, o líder do partido de centro Ação, Carlo Calenda, salientou que Draghi e o presidente da França, Emmanuel Macron, são os "únicos líderes que podem pedir para EUA e Otan não se anteciparem".
Visita
O premiê italiano chega em Washington nesta terça-feira (10), em sua primeira visita oficial aos EUA desde que assumiu o poder, em fevereiro de 2021.
A missão deve ser uma oportunidade para Draghi e Biden impulsionarem a histórica parceria bilateral entre os dois países, mas deve se concentrar sobretudo na guerra russo-ucraniana.
O premiê tem sido uma das vozes mais duras contra o regime de Vladimir Putin na União Europeia, apesar das divergências que permeiam sua base aliada.
Em coletiva de imprensa, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, revelou que Draghi e Biden "falarão sobre como continuar a impor sanções a Putin e à Rússia e como continuar ajudando os ucranianos".
"Os dois líderes falarão também sobre cooperação bilateral em vários campos”, reiterou ela.
Draghi também deve visitar o Congresso americano, na quarta-feira (11), e será homenageado no Atlantic Council por sua "liderança internacional". (ANSA)
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