O presidente da Comissão Episcopal para as Migrações da Confederação Episcopal Italiana (CEI), Gian Carlo Perego, defendeu neste sábado (2) o projeto de lei que concede cidadania a filhos de migrantes nascidos no país ou que tenham chegado à Itália antes de completar 12 anos de idade. A legislação voltou à pauta política durante essa semana.
"A reforma da cidadania com o 'jus scholae' vai de encontro com a realidade de um país que está mudando. Espero que a razão e a realidade prevaleçam sobre os debates ideológicos para o bem não só de quem espera essa lei, mas também da Itália, que é um dos países mais velhos do mundo", disse Perego à ANSA.
Apesar de não ter impacto direto em votações, a Igreja Católica na Itália continua a exercer uma forte influência no posicionamento da maior parte do Parlamento do país, especialmente, em temas mais sensíveis.
A legislação foi aprovada na última terça-feira (28) pela Comissão de Constituição da Câmara dos Deputados e foi encaminhada para debates no plenário, mas a medida enfrenta a resistência entre os partidos de extrema-direita, especialmente, a Liga, que faz parte da base do governo de Mario Draghi.
Atualmente, filhos de estrangeiros nascidos na Itália só podem requerer a cidadania italiana após completar 18 anos, mesmo que tenham passado a vida toda no país e estejam completamente integrados à sociedade onde vivem.
Chamado de "jus scholae" ("direito de escola", em tradução livre), o projeto é uma espécie de meio-termo em relação ao jus soli ("direito ao solo"), um projeto que daria cidadania a todos os filhos de migrantes que nasceram e vivem na Itália.
Questionado sobre essa resistência político, o religioso destacou que a legislação "está em debate há ao menos 15 anos e contrapor isso com a crise econômica atual não tem lógica".
Segundo os representantes da Liga, o assunto não é prioridade por conta do aumento no custo de vida.
Para Perego, as contraposições políticas estão ligadas ao fato de que elas só veem "os parâmetros ideológicos e não olham a realidade" das pessoas.
"Uma realidade de 1,4 milhão de jovens, dos quais 900 mil são alunos de nossas escolas e os outros são aqueles que têm mais de 18 anos e esperam ser reconhecidos cidadãos italianos. A realidade, e isso a política deve sempre levar em conta, é que a Itália mudou com cinco milhões e meio de migrantes que representam um mundo de famílias, de estudantes e de trabalhadores", acrescentou ainda.
Para o monsenhor, é preciso "ler a situação e utilizar um instrumento de cidadania para que eles se tornem participantes dessa transformação, mas também para os italianos em geral, que sempre se disseram favoráveis a essa lei, com mais de 70% de aprovação desse provimento".
Além da aprovação na Comissão, o tema voltou a ganhar destaque na mídia italiana por conta do influenciador digital Khaby Lame, a pessoa com a maior quantidade de seguidores no TikTok no mundo e que, aos 22 anos, ainda não conseguiu sua cidadania italiana apesar de ter chegado com os pais à Itália com apenas um ano de vida.
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