O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, afirmou nesta terça-feira (12) que seu governo não trabalha com "ultimatos", em recado direto para o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que desde junho ameaça desembarcar da base aliada.
A declaração foi dada durante uma coletiva de imprensa no dia seguinte ao boicote do M5S à votação na Câmara dos Deputados de um pacote de ajuda contra a inflação, postura que levantou dúvidas sobre a manutenção da atual aliança.
"Um governo não trabalha com ultimatos, ou então perde a razão de existir. Se há a sensação de que estar nesse governo é um sofrimento extraordinário, então é preciso ser claro. Digo isso também para todos os outros que ameaçam coisas terríveis para setembro", afirmou Draghi.
O premiê também disse não acreditar na possibilidade de um governo sem o M5S nem na hipótese de ele encabeçar uma aliança diferente.
Draghi lidera um governo de união nacional que vai da esquerda à extrema direita e tem como objetivo guiar a Itália até as eleições legislativas do primeiro semestre do ano que vem.
No entanto, após o boicote do M5S à votação da última segunda-feira (11), o ex-premiê Silvio Berlusconi, presidente do partido conservador Força Itália (FI), já pediu para o atual primeiro-ministro fazer uma "verificação" em sua base de apoio parlamentar.
O M5S já havia ameaçado abandonar o governo no fim de junho, mas uma reunião entre Draghi e o presidente do partido, o ex-premiê Giuseppe Conte, aparentemente tinha colocado panos quentes na crise.
Na ocasião, Conte disse que estava disposto a seguir apoiando o Executivo, desde que houvesse um "claro sinal de descontinuidade", e apresentou uma série de demandas, como o aumento dos auxílios financeiros para famílias e empresas, a redução da carga tributária e a aprovação do salário mínimo.
Na coletiva desta terça, Draghi fez acenos às propostas do M5S. "Já foi aprovada uma diretiva europeia sobre salário mínimo, e o governo pretende se mover nessa direção", declarou o primeiro-ministro, acrescentando que há "muitos pontos de convergência" entre a agenda do governo e as demandas do movimento antissistema.
O M5S ainda questiona algumas medidas tomadas pelo Executivo, como o envio de armas à Ucrânia, mas ao mesmo tempo precisa lidar com cisões internas.
A última delas ocorreu em 21 de junho, quando o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, figura histórica do movimento, anunciou sua saída do partido por discordar da linha de Conte sobre a ajuda militar a Kiev.
O chanceler levou com ele mais de 50 deputados e 10 senadores, reduzindo o poder de barganha do M5S, que chegou a ser o partido mais popular da Itália em 2018, mas hoje amarga o quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 10% das intenção de voto. (ANSA)
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