Faltando pouco mais de uma semana para as eleições parlamentares na Itália, os líderes de extrema direita Giorgia Meloni e Matteo Salvini, membros da coalizão favorita à vitória, mostraram divergências sobre a necessidade de endividar o país para combater a inflação.
Secretário do partido ultranacionalista Liga, Salvini defende que o governo faça um déficit extra de 30 bilhões de euros para enfrentar a disparada nas contas de luz e gás, mas Meloni, presidente da legenda de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), é contra, uma vez que o país já tem a segunda maior dívida da zona do euro, equivalente a 150% do produto interno bruto (PIB).
"Qual é a satisfação de ser premiê ou ministro se milhões de pessoas arriscam perder o emprego?", afirmou Salvini durante um encontro com a associação de artesãos Confartigianato.
"Arriscamos perder 1 milhão de postos de trabalho se não nos movermos rapidamente. A Liga pede isso há dois meses, mas sozinha, porque a maior parte dos partidos, incluindo o Irmãos da Itália, diz que é preciso ser prudente e não fazer novas dívidas", acrescentou.
Salvini ainda colocou Meloni no mesmo plano do ex-premiê Enrico Letta, líder do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), principal adversário da coalizão conservadora. "É preciso intervir imediatamente para bloquear os aumentos [nas contas], não é um capricho de Salvini. Gostaria de saber por que Letta e Meloni querem esperar a Europa", disse.
Reação
Em resposta, Meloni, entrevistada pela emissora La7, disse estar "surpresa" pelo fato de Salvini estar se mostrando "mais polêmico" com ela do que com os adversários.
"Já expliquei por que o desvio orçamentário para resolver o problema dos boletos deve ser ponderado. O preço do gás aumenta porque os grandes players do mercado decidem aumentá-lo. Se não pararmos com a especulação, 30 bilhões de euros não serão suficientes. Serão necessários 50 bilhões, e esse dinheiro será dívida para nossos filhos. Eu penso antes de fazer algo assim", afirmou.
Meloni defende a desvinculação do preço do gás em relação à eletricidade e a imposição de um teto ao valor da commodity, medida também apoiada pelo premiê demissionário Mario Draghi.
Salvini, no entanto, não recuou e manteve o tom crítico ao posicionamento de sua aliada. "Lamento que Giorgia, com quem concordo sobre tudo, diga não. As fábricas estão deixando os operários em casa, os restaurantes não conseguem mais, as famílias não aguentam. Não entendo por que não disponibilizar agora 30 bilhões de euros", ressaltou.
As críticas do ex-ministro do Interior a Meloni também são reflexo da dinâmica que rege a coalizão conservadora, que ainda inclui o moderado Força Itália (FI), partido do ex-premiê Silvio Berlusconi.
Segundo todas as pesquisas, essa aliança deve obter maioria no Parlamento nas eleições de 25 de setembro, mas a prerrogativa de indicar o próximo primeiro-ministro será da legenda que terminar na frente.
O líder nas sondagens é o FdI, com cerca de 24% dos votos, mas a Liga, com pouco mais de 10%, tenta roubar eleitores de Meloni para recuperar sua primazia na coalizão. (ANSA)
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