A tripulação do navio Humanity 1 recusou neste domingo (6) uma ordem do governo da Itália para deixar o porto de Catânia com os 35 migrantes impedidos de desembarcar no país.
A embarcação pertence à ONG alemã SOS Humanity e, ao lado de outros três navios humanitários, protagoniza um braço de ferro com a gestão da premiê de extrema direita Giorgia Meloni sobre o acolhimento de deslocados internacionais.
"Hoje nosso capitão, Joachim Ebeling, foi contatado pelas autoridades para que deixe o porto com os 35 sobreviventes. Nosso capitão respondeu o email e explicou que não pode fazer isso e que ficaremos aqui até que os sobreviventes desembarquem", disse a ONG.
O Humanity 1 havia resgatado 179 pessoas no Mediterrâneo Central, rota migratória mais mortal do mundo, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mas 144 tiveram autorização para desembarcar em Catânia por motivos médicos neste domingo, incluindo 102 menores de idade.
Outros três navios humanitários também aguardam a designação de um porto seguro pela Itália: o Geo Barents, de Médicos Sem Fronteiras, com 572 náufragos a bordo e que já está em Catânia; o Ocean Viking, da SOS Méditerranée, com 234; e o Rise Above, da Mission Lifeline, com 90.
Normas internacionais de navegação determinam que pessoas resgatadas em alto mar sejam obrigatoriamente levadas ao porto seguro mais próximo, mas o novo governo italiano quer que os países de origem dos navios humanitários que operam no Mediterrâneo Central - Alemanha e Noruega - se responsabilizem pelos migrantes.
A linha dura contra as ONGs é capitaneada pelo ministro da Infraestrutura Matteo Salvini, que é responsável pela gestão dos portos italianos e ainda conseguiu emplacar um aliado fiel, Matteo Piantedosi, como ministro do Interior, pasta encarregada das políticas migratórias.
França e Alemanha já se ofereceram para acolher parte dos migrantes, mas outros países da União Europeia, como Polônia e Hungria, aliados de Meloni e Salvini, boicotam sistematicamente as tentativas do bloco de redistribuir os deslocados internacionais, de modo a reduzir o peso do primeiro acolhimento sobre a Itália.
De acordo com o Ministério do Interior, 87,4 mil migrantes forçados já desembarcaram nos portos italianos em 2022, crescimento de 61% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os principais países de origem são Egito (17,7 mil), Tunísia (16,9 mil), Bangladesh (12,3 mil), Síria (6,4 mil) e Afeganistão (6,1 mil).
No entanto, a maior parte desses deslocados segue viagem rumo ao norte da UE, para nações como a Alemanha, que registra 114 mil pedidos de refúgio em 2022, contra 37 mil da Itália.
Segundo a OIM, quase 1,3 mil pessoas já morreram ou desapareceram tentando concluir a travessia do Mediterrâneo Central em 2022, média de mais de quatro fatalidades por dia. (ANSA)
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