"A Europa está de volta". A União Europeia, impulsionada pelas tensões geopolíticas e à procura de novas parcerias em matérias-primas estratégicas, necessárias às transições energética e digital, regressa à América Latina com a presidente da Comissão para abrir novos espaços e contrariar a influência chinesa.
Ursula von der Leyen, engajada em uma cansativa jornada que a leva a quatro capitais em quatro dias - Brasília, Buenos Aires, hoje (14) em Santiago e amanhã (15) na Cidade do México - já anunciou pelo menos 10 bilhões de euros de investimentos do programa Global Gateway, alternativa de Bruxelas à Rota da Seda de Pequim, prometendo que "este é apenas o começo".
Determinada a escalar as posições, a líder da UE alertou contra o investimento estrangeiro (uma alusão direta à China). "Não é só uma questão de dinheiro, mas também de método", advertiu.
"Os investimentos que vêm de fora muitas vezes têm condições, ou criam dependências nocivas. A nossa abordagem é diferente. O que se vê é o que se obtém. Os projetos são feitos sob medida para as realidades locais", acrescentou.
Os pontos em destaque no resumo dos acordos e financiamentos europeus anunciados até agora são 2 bilhões de euros para apoiar a produção de hidrogênio verde no Brasil, energia que a UE planeja importar até 2030 em 10 milhões de toneladas por ano, mas também projeta 225 milhões de euros para trabalhar no mesmo setor com o Chile.
Na Argentina, porém, foi assinado um memorando de parceria para matérias-primas estratégicas, em particular o lítio, essencial para as baterias elétricas, cuja demanda na Europa estima-se que se multiplique 12 vezes até 2030. Um dossiê, o do ouro branco, no qual a UE também quer trabalhar com o Chile, além de colaborações com Buenos Aires para contribuir para a transformação do país em um polo regional de energia limpa.
Porque, destacou o presidente da Comissão, uma das lições aprendidas com a guerra na Ucrânia e com a "chantagem" de Moscou sobre o gás é a importância de ter "parceiros de confiança, com a mesma visão do mundo e os mesmos valores", como os países da América Latina, convidados para uma cúpula em Bruxelas nos dias 17 e 18 de julho.
Ainda continua sobre a mesa o acordo UE-Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), não só um acordo comercial para aproximar 600 milhões de consumidores, mas também uma plataforma de diálogo futuro, capaz de desencadear potencialidades inexploradas, segundo Bruxelas.
O acordo, que custou 20 anos de negociações, e que ficou parado por quatro anos com a era Bolsonaro, voltou a ganhar força após o envio de um documento complementar da UE sobre sustentabilidade e desmatamento na Amazônia, que prevê sanções no evento de inadimplência.
O texto é inaceitável para Luiz Inácio Lula da Silva (chefe do G20 desde dezembro), que afirmou: "Acredito que uma parceria deve ser baseada na confiança". Já o argentino Alberto Fernández, cujo governo estará na prova eleitoral em outubro, voltou a pedir "uma revisão do acordo, que leve em conta as assimetrias entre as economias dos dois blocos".
Mas Von der Leyen parece disposta a trabalhar arduamente para chegar a um compromisso, "pelo menos no nível político, o mais rápido possível, o mais tardar até o final do ano".
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