(ANSA) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (17), em Bruxelas, que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul deve se basear em "confiança mútua", e não em "ameaças".
Em seu discurso na cúpula entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o líder brasileiro repetiu o tom de seus últimos pronunciamentos e voltou a criticar a corrida armamentista por conta da guerra na Ucrânia.
"Queremos assegurar uma relação comercial justa, sustentável e inclusiva. A conclusão do Acordo Mercosul-UE é uma prioridade e deve estar baseada na confiança mútua, e não em ameaças. A defesa de valores ambientais, que todos compartilhamos, não pode ser desculpa para o protecionismo", disse Lula.
O presidente reclama sobretudo de um documento adicional proposto pela UE e que prevê sanções por descumprimento de compromissos ambientais e da permissão para empresas europeias participarem de licitações governamentais no Mercosul e vice-versa.
"O poder de compra do Estado é uma ferramenta essencial para os investimentos em saúde, educação e inovação. Sua manutenção é condição para a industrialização verde que queremos implementar", acrescentou o presidente.
Apesar das divergências com Bruxelas, Lula elogiou a União Europeia, definindo o bloco como "exemplo de construção democrática". "Seu legado no pós-Segunda Guerra Mundial é a comprovação de que podemos superar as mais profundas desavenças quando há determinação política em torno da paz", afirmou o petista.
Em seu discurso, Lula voltou a defender o "fim da divisão internacional do trabalho que condena a América Latina e o Caribe ao fornecimento de matéria-prima e de mão-de-obra migrante, mal remunerada e discriminada".
Além disso, citou os riscos do "extremismo político, da manipulação da informação e da violência que ataca e silencia minorias", ao mesmo tempo em que defendeu a regulamentação das redes sociais para combater crimes e de aplicativos e plataformas digitais para reverter a precarização do trabalho.
Lula ainda reiterou a promessa de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, mas ressaltou mais uma vez que a floresta não pode ser vista como um "santuário ecológico" e que o mundo "precisa se preocupar com o direito de viver bem dos habitantes" da região.
Ucrânia
Sobre a guerra na Ucrânia, defendeu iniciativas "em favor da cessação imediata de hostilidades e de uma paz negociada", mas afirmou que "recorrer a sanções sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis".
"A guerra no coração da Europa veio para aumentar a fome e a desigualdade, ao mesmo tempo em que elevou os gastos militares globais. Apenas em 2022, em vez de matar a fome de milhões de seres humanos, o mundo gastou US$ 2,24 trilhões para alimentar a máquina de guerra", declarou.
Segundo Lula, "a guerra na Ucrânia é mais uma confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à paz e à segurança". "Seus próprios membros não respeitam a Carta da ONU. Precisamos de paz para superar os grandes desafios que temos diante de nós, e isso implica mudanças sistêmicas profundas. Dividir o mundo em blocos antagônicos seria uma insensatez", disse. (ANSA)
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