O papa Francisco celebrou neste domingo (17) sua tradicional bênção de Páscoa e voltou a fazer um apelo por paz na Ucrânia, país que é alvo de uma invasão promovida pela Rússia desde 24 de fevereiro.
Na mensagem "Urbi et Orbi" ("À cidade e ao mundo"), pronunciada na loggia central da Basílica de São Pedro, o líder da Igreja Católica lamentou o fato de o mundo atravessar uma "Páscoa de guerra", com os "corações cheios de medo e angústia, enquanto muitos irmãos e irmãs tiveram de se trancar para se defender das bombas".
"Temos às nossas costas dois anos de pandemia, que deixaram sinais marcantes. Era o momento de sairmos juntos do túnel, de mãos dadas, unindo forças e recursos... Em vez disso, estamos demonstrando que ainda não temos o espírito de Jesus, que temos o espírito de Caim, que não olha Abel como um irmão, mas como um rival, e pensa em como eliminá-lo", disse o pontífice diante de 100 mil pessoas.
Em seguida, Jorge Bergoglio citou nominalmente a "martirizada Ucrânia" e afirmou que o país vem sendo "duramente testado pela violência e pela destruição de uma guerra cruel e insensata para a qual foi arrastada".
"Que surja sobre essa terrível noite de sofrimento um novo amanhecer de esperança. Que se escolha a paz. Que se pare de mostrar os músculos enquanto o povo sofre. Quem tem a responsabilidade nas nações deve escutar o grito de paz das pessoas. Ouçam aquela inquietante pergunta posta por cientistas quase 70 anos atrás: 'Colocaremos fim à raça humana ou a humanidade saberá renunciar à guerra?'", disse.
Francisco também mencionou as "numerosas vítimas ucranianas, os milhões de refugiados e de deslocados internos, as famílias divididas, os idosos que ficaram sozinhos, as vidas despedaçadas e as cidades levadas ao chão".
"Tenho nos olhos o olhar das crianças que ficaram órfãs e que fogem da guerra. Olhando para elas, não podemos não perceber seu grito de dor, assim como o de tantas outras crianças que sofrem em todo o mundo: aquelas que morrem de fome ou por falta de tratamento, aquelas que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer", acrescentou.
O Papa, no entanto, afirmou que "não faltam sinais encorajadores", como a solidariedade oferecida por famílias e comunidades de toda a Europa para os refugiados ucranianos. "Que esses numerosos atos de caridade se tornem uma bênção para nossas sociedades, muitas vezes degradadas por tanto egoísmo e individualismo", salientou.
Além da Ucrânia
Como de hábito na "Urbi et Orbi", Francisco não se limitou a mencionar apenas um país e passou por algumas das principais crises da atualidade, como os conflitos no Iêmen e na Líbia, as tensões no Oriente Médio e a corrupção na América Latina.
"Que haja paz para o Oriente Médio, dilacerado por anos de divisões e conflitos. Neste dia glorioso, peçamos paz para Jerusalém e para aqueles que a amam, cristãos, judeus e muçulmanos. Que israelenses, palestinos e todos os habitantes da Cidade Sagrada, ao lado dos peregrinos, possam experimentar a beleza da paz, viver em fraternidade e acessar com liberdade os lugares sagrados, no respeito recíproco aos direitos de cada um", afirmou.
Bergoglio também rezou por "paz e reconciliação" na Síria, no Iraque e no Líbano, país que ele deve visitar em junho, e para que a Líbia, no norte da África, "encontre estabilidade após anos de tensões". Além disso, recordou o "conflito esquecido por todos" no Iêmen. "Que a trégua assinada nos últimos dias possa restituir esperança à população", disse.
O Papa ainda mencionou Myanmar, "onde perdura um dramático cenário de ódio e violência", e o Afeganistão, "onde não se aliviam as perigosas tensões sociais e onde uma dramática crise humanitária está martirizando a população".
Em seguida, pediu paz para "todo o continente africano, para que se cessem a exploração da qual é vítima e a hemorragia levada pelos ataques terroristas, em particular na zona do Sahel [região árida situada ao sul do deserto do Saara]".
"Que a Etiópia, atormentada por uma grave crise humanitária, reencontre o caminho do diálogo e da reconciliação, e que se cessem as violências na República Democrática do Congo", ressaltou Francisco, que visitará este último país no início de julho.
O pontífice ainda expressou solidariedade pelas mortes provocadas por inundações na África do Sul e mencionou os "países da América Latina, que, em alguns casos, viram piorar suas condições sociais, exacerbadas também pela criminalidade, pela violência, pela corrupção e pelo narcotráfico".
Por fim, Francisco citou o Canadá, país que ele visitará no fim de julho e que foi chacoalhado no ano passado pela descoberta de valas comuns com centenas de corpos em antigos internatos católicos para crianças indígenas.
"Ao Senhor ressuscitado, pedimos que acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica canadense está percorrendo com os povos autóctones", declarou.
O Papa encerrou a bênção de Páscoa com mais um apelo contra a guerra. "A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos", destacou. (ANSA)
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