O papa Francisco desembarcou neste domingo (24) em Edmonton, primeira etapa de uma viagem de seis dias pelo Canadá, onde tentará reconstruir a relação com comunidades indígenas que foram vítimas de maus-tratos da Igreja Católica em campanhas de assimilação.
Ao sair do avião, o pontífice - usando cadeira de rodas - foi recebido pessoalmente pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, pela governadora-geral Mary Simon, representante oficial da rainha Elizabeth II no país e primeira indígena a ocupar o cargo, e por integrantes de povos nativos.
A visita apostólica acontece na esteira da descoberta de valas comuns com centenas de corpos não identificados em antigos internatos administrados pela Igreja Católica no Canadá.
As primeiras covas foram encontradas em maio de 2021, no terreno de uma antiga escola de Kamloops, na província ocidental da Colúmbia Britânica, expondo as feridas nunca curadas da cristianização forçada de indígenas canadenses.
Francisco já se desculpou pelos crimes da Igreja durante um encontro com uma delegação de nativos em abril passado, no Vaticano, mas deve repetir o pedido de perdão em solo canadense. "Estejamos atentos a esta viagem, que é uma viagem penitencial. Vamos fazê-la com este espírito", disse o Papa a jornalistas durante o voo entre Roma e Edmonton.
Já no Twitter, Jorge Bergoglio afirmou esperar que sua "peregrinação penitencial possa contribuir para o caminho de reconciliação já iniciado".
Dear brothers and sisters of #Canada, I come among you to meet the indigenous peoples. I hope, with God's grace, that my penitential pilgrimage might contribute to the journey of reconciliation already undertaken. Please accompany me with #prayer.
— Pope Francis (@Pontifex) July 24, 2022
"Muito a fazer"
Líderes indígenas concederam uma coletiva de imprensa conjunta no fim da semana passada e afirmaram que a Igreja Católica ainda tem "muito a fazer" para garantir reparação pelos crimes cometidos no passado.
"Queremos que a verdade sobre o que aconteceu nas escolas residenciais seja compartilhada com o público. Todo mundo precisa saber o que aconteceu conosco", declarou Randy Ermineskin, chefe da tribo Ermineskin Cree.
"É preciso ter justiça. É preciso haver uma oportunidade para os malfeitos serem consertados", reforçou George Arcand Jr., representante de uma confederação de Primeiras Nações (do inglês "First Nations", como são chamados os povos nativos do Canadá).
De acordo com ele, o pedido de desculpas feito por Bergoglio em abril é um "passo adiante" na busca dos indígenas por reparação. "Mas não acaba aqui, ainda há muito a se fazer. Isso é apenas o começo", acrescentou.
As chamadas escolas residenciais tinham como objetivo "educar" os nativos de acordo com os preceitos católicos, mas, para isso, retiravam crianças à força de suas comunidades e as obrigavam a abandonar seus costumes e sua língua.
Além disso, os alunos eram vítimas frequentes de abusos sexuais e físicos por parte dos professores. Estima-se que cerca de 150 mil indígenas tenham passado por esses internatos até a década de 1970. Uma dessas escolas, em Maskwacis, será visitada pelo Papa.
Roteiro
Os compromissos oficiais da viagem começam nesta segunda-feira (25), com uma visita à comunidade de Maskwacis, onde Francisco se reúne com representantes das Primeiras Nações e dos povos métis e inuit.
Em 26 de julho, o líder católico celebra uma missa em um estádio de Edmonton e participa de uma peregrinação em um lago pelo Dia de Santa Ana. No dia 27, o pontífice parte para Québec, capital da região de língua francesa do Canadá, e se reúne com autoridades políticas, civis, indígenas e diplomáticas.
Em 28 de julho, Francisco celebra uma missa no Santuário Nacional de Sainte-Anne-de-Beaupré e depois participa das Vésperas com bispos, padres e outros representantes católicos.
No dia seguinte, faz uma reunião privada com membros da Companhia de Jesus e se encontra com uma delegação de indígenas do Québec.
Na parte da tarde, Bergoglio vai a Iqaluit, capital e único município do território de Nunavut, maior região do país em extensão geográfica e também a mais setentrional, com boa parte de sua área situada dentro do Circulo Polar Ártico.
A população de Iqaluit é formada majoritariamente por inuits (56%), esquimós que habitam regiões árticas. Na cidade, Francisco se reúne de forma privada com ex-alunos de antigos internatos católicos e depois participa de um encontro com jovens e idosos.
Ainda em 29 de julho, o pontífice embarca para Roma, onde chega no sábado (30). (ANSA)
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